A construção da Catedral de Jacarezinho é muito interessante. Cabe lembrar que na época de sua construção a sociedade global passava por experiências conturbadoras e marcantes, algumas das quais gostaríamos de nunca ter passado, como as grandes guerras mundiais.
O mundo, no final da década de 1930, vivia um período de mudanças. No Brasil tínhamos a Semana de Arte Moderna (1922), Getúlio Vargas no poder e as ideias comunistas já haviam sido propagadas.
O Paraná, em especial o Norte Pioneiro, agraciado pela sua terra roxa e fértil, atraiu a elite cafeeira e migrantes de outras regiões, principalmente mineiros e paulistas. Assim, a partir dessa cultura, promoveu o povoamento do Norte Novo do Estado. Jacarezinho representava forte influência política, econômica e religiosa. Em fevereiro de 1942, recebe o seu segundo bispo, Dom Ernesto de Paula que coloca a pedra fundamental da atual Catedral no dia 19/07/1942. Para obter o cabedal necessário organizou uma grande festa, que se estendeu de 18 de agosto a 24 de setembro de 1944.
Conclui-se que a diocese não possuía numerários suficientes para arcar com todas as despesas que se faziam necessárias, mesmo assim foi iniciado os trabalhos da Igreja Episcopal que exigiu somas enormes. O projeto, na época em estilo moderno, foi elaborado pelo arquiteto paulista Benedito Calixto de Jesus Neto.
A construção da catedral reflete sua grandiosidade (67 m de comprimento e 22 m de largura), sinais materiais da sociedade local, que possuía forte cafeicultura e predominava a religião católica, o que leva a acreditar que a cafeicultura contribuiu grandemente para a execução da obra.
Nessa época a influência do catolicismo se fazia presente também na educação. Os filhos das famílias abastadas da região estudavam nos colégios internos: Colégio Cristo Rei (masculino) e Imaculada Conceição (feminino).
Com a saída de dom Ernesto, a diocese ficou aos cuidados de Monsenhor João Belchior, vigário capitular que assumiu até a vinda do próximo bispo, D. Geraldo de Proença Sigaud.
Amante do estilo colonial, Dom Geraldo alterou o estilo da catedral quando ainda era possível, e confiou a orientação do acabamento ao arquiteto e pintor Dr. Eugênio Sigaud, seu irmão.
Eugênio, o artista ateu e comunista, irmão do Bispo
No interior da catedral, encontramos além da beleza e riqueza arquitetônica, painéis pintados por Eugênio de Proença Sigaud, irmão de Dom Geraldo de Proença Sigaud, assumidamente ateu e militante socialista.
Eugênio de Proença Sigaud nasceu em Santo Antônio do Carangola, Estado do Rio de Janeiro a 02 de julho de 1899, filho de Paulo da Nóbrega Sigaud e Maria de Proença Sigaud.
Participou em 1945, da exposição “Artistas Plásticos” ao Partido Comunista do Brasil, ao lado de grandes artistas, dentre eles, Portinari, e Sigaud.
Enquanto Sigaud, um militante social, dizia-se “ateu convicto” como se explica ter ele pintado uma igreja, uma catedral? Não era contraditório?
Explica-se somente por ser convite de seu irmão, um bispo? Eugênio Sigaud esclareceu que o empreendimento não iria denotar devoção religiosa e sim um trabalho feito por encomenda religiosa.
Remodela o projeto de Benedito Calixto Neto para o estilo romano e executa toda a pintura interna, que foi para a sociedade da época definida como “surrealista e herege”, segundo alguns jornais da época.
Na catedral, encontramos 600 m² de pinturas, com murais de até 15 metros de altura, com figuras de até 3 metros. São painéis de enormes proporções, representando cenas bíblicas que Sigaud tratou a sua maneira, impondo-lhes sua personalidade, sem prejudicar a finalidade precípua – decorar uma igreja.
Figuram nessas obras, imortalizados, o Velho Testamento, com as oliveiras substituídas por pinheiros, cafeeiros e cana de açúcar, registrando o poder econômico jacarezinhense da época, bem como figuras do povo da cidade: comerciantes, fazendeiros, coroinhas, o prefeito, sua esposa, filhos de Maria, pessoas humildes, bizarras, enfim, figuram nas pinturas de Sigaud pessoas que de algum modo chamaram sua atenção.
Suas pinturas, com características similares a Candido Portinari, demonstram sua luta pelo oprimido; as figuras apresentam pés e mãos enormes e o impacto dramático representa o contraste existente entre a burguesia do proletariado.
O trabalho de Sigaud, em Jacarezinho, é o segundo mais importante do Brasil, depois do de Portinari na Pampulha. É uma arte religiosa de caráter bastante contemporâneo, já dentro de uma visão com comprometimento social e político que era próprio de Sigaud. Apresenta uma análise de todo o contexto por que passou a humanidade nesse período ( 1942 a 1960).
A catedral em Construção
A Catedral de Jacarezinho hoje é um dos mais belos monumentos que o Paraná possui, tombada pelo Patrimônio Histórico do Estado. Quem vem a Jacarezinho, obrigatoriamente visita a Catedral. Mas sua construção foi resultado de muitos anos de trabalho, principalmente em busca de recursos. A Catedral foi inaugurada em 1950.
Por fim
Estando em Jacarezinho na região norte da Diocese, você visitará também:
Catedral Imaculada Conceição, o Santuário da Mãe Rainha e Vencedora de Schoenstatt, o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, Mosteiro Preciosíssimo Sangue – Fraternidade o Caminho, a Capela São Benedito e o Museu D. Ernesto de Paula. Ademais, nas cidades vizinhas como Ribeirão Claro, Santo Antonio da Platina , Ribeirão do Pinhal e Bandeirantes que fazem parte da região norte, oferecerão outras experiências, beleza, espiritualidade, aventura e fé.
MATÉRIA REPRODUZIDA DO SITE DA ROTA DO ROSÁRIO
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