Na semana passada, realizamos na Assembleia Legislativa
uma audiência pública para debater e dar início à coleta de assinaturas
ao projeto de iniciativa popular que assegura a tarifa zero no
transporte coletivo urbano em todo o país.
O modelo atual de transporte público no país está esgotado, é
ineficiente e excludente. Diariamente, milhões de pessoas vivem a dura
realidade da precariedade e inadequação das frotas de ônibus, com
quantidade reduzida, limitação das linhas e o alto preço da
tarifa.
No país, são 39 milhões de usuários do transporte coletivo, enquanto 37
milhões estão excluídos do sistema devido aos altos valores das tarifas.
O transporte público reflete uma profunda desigualdade social no país.
Num universo de 105 milhões de brasileiros considerados economicamente
ativos, o transporte público atende apenas 37% dos trabalhadores. A
maioria da população não tem direito ao transporte de qualidade,
basicamente porque não pode pagar.
Na sexta-feira (4) o IBGE divulgou a Pesquisa de Orçamentos Familiares
(POF), que traz dados referentes a 2018. Pela primeira vez, as despesas
de consumo das famílias com transporte ultrapassam os gastos com
alimentação no Brasil. Historicamente, os gastos
com habitação são os que mais pesam no orçamento das famílias
brasileiras. A alimentação aparecia em segundo lugar, sendo superada
pelo transporte pela primeira vez na história, revela o IBGE.
Não é à toa, portanto, que o número de usuários vem caindo. Somente em
Curitiba, nos últimos 4 anos, os usuários diminuíram em 20%. Isso
aconteceu em função do surgimento de aplicativos e novos modais, mas
principalmente em função da tarifa alta.
Apesar disso, o transporte coletivo ainda é o grande responsável pela mobilidade nos centros urbanos do país.
O direito ao transporte é um direito social fundamental, previsto na
Constituição. E se a lei considera o transporte um serviço essencial
para o bem-estar dos cidadãos, é dever do Estado garantir a todos o
acesso a ele da forma mais ampla possível.
Em todo o mundo os governos vêm debatendo como implantar a tarifa zero.
Muitas cidades já contam com a gratuidade. Desde 2013, a capital da
Estônia, Tallinn, introduziu o transporte público gratuito. Os 440 mil
habitantes utilizam os ônibus, e bondes a custo
zero. Iniciativas bem sucedidas foram implantadas na França, Polônia,
Austrália, EUA, Suécia e até aqui no Brasil 15 cidades também
conseguiram viabilizar a tarifa zero, entre as quais as paranaenses
Ivaiporã e Pitanga.
Aqui no Paraná, desde 2014 o Instituto Brasil Transportes (IBT) estuda e
debate o tema da tarifa zero. É do Instituto Brasil Transporte o
projeto de iniciativa popular que prevê a gratuidade no transporte
coletivo para todos.
O artigo 61 da Constituição prevê a apresentação de projetos de lei pela
iniciativa popular com a adesão mínima de 1% dos eleitores em nível
nacional, mediante assinaturas, distribuídos por pelo menos cinco
estados e no mínimo 0,3% dos eleitores em cada uma
das unidades. O número de eleitores do Brasil em agosto de 2018 era de
147,3 milhões, o número mínimo de assinaturas para um projeto de
iniciativa popular é, portanto, 1,47 milhão.
O projeto propõe a criação de Fundo Nacional de Transporte Urbano a ser
criado e formado com recursos de rubricas legais já existentes, a
exemplo da Cide (contribuição de intervenção no domínio econômico
incidentes sobre o comércio de combustíveis).
A legislação brasileira determina que os recursos de vários impostos
devem ser aplicados na melhoria da mobilidade urbana, mas na prática
isso não acontece. A criação de um fundo nacional reunindo o dinheiro
desses impostos que a população já paga é que vai
viabilizar a tarifa zero. Ao todo são ao menos 17 leis, decretos,
medidas e atos que podem financiar o fundo.
O sistema de transporte urbano no Brasil custa R$ 46 bilhões. A Cide e o
vale-transporte, entre outras fontes já existentes podem garantir para o
usuário do sistema.
As assinaturas para adesão ao projeto de iniciativa popular podem ser feitas eletronicamente pelo aplicativo
mudamos.org. O aplicativo pode ser baixado no celular. É necessário informar o nome completo, CPF e o título de eleitor.
Para assinar, acesse
https://www.mudamos.org/temas/lei-da-tarifa-zero/plugins/peticao
Considero a implantação da tarifa zero no transporte coletivo plenamente
viável. É uma utopia possível. Não é em gabinetes fechados que iremos
solucionar os grandes problemas do país. É no Legislativo que vamos
encontrar as soluções para o Brasil. Os recursos
existem. Basta que haja vontade política para implanta-la. Basta ter
coragem.
Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual pelo PSB
0 Comments:
O que você achou desta matéria???