Na última sexta-feira, 31, Dia Mundial sem Tabaco,
completamos 10 anos da Lei Antifumo no Paraná com mais uma boa notícia: a
redução do número de fumantes no país. Isso mostra que o Paraná seguiu o
caminho certo ao banir o consumo do cigarro em ambientes fechados
através da lei 16.239, de 29 de setembro de 2009, da qual, fui autor,
até porque sei o que foi difícil aprová-la. Enfrentei lobbies e pressões
de todos os lados, mas vencemos.
A lei paranaense, assim como a de outros sete estados, ensejou a criação
da lei federal 12.546 – de 3 de dezembro de 2014 – que proibiu em todo o
Brasil o ato de fumar cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos,
narguilés e outros produtos em locais de uso
coletivo, públicos ou privados, como halls e corredores de condomínios,
restaurantes e clubes.
Eu sempre digo que esta é uma luta permanente pelo direito à vida das
pessoas, inclusive dos fumantes, contra a morte representada pelo
tabaco. As leis de restrição ao fumo mostram que a consciência social
antitabagista engendra um movimento potente e irreversível.
Estamos ao lado da saúde, e isso é fácil de se entender.
De acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, em 2017 a prevalência de
fumantes era 10,1%, enquanto em 2006 atingiu 15,7%. Segundo a médica
Tânia Cavalcante, do Instituto Nacional do Câncer,
os dados mostram que a proporção de fumantes do Brasil acima de 18 anos
equivale a 15 milhões ou 16 milhões de pessoas. Esse é um número ainda
muito considerável, apesar da queda acentuada dos fumantes.
Nesta cruzada não há como concordar com a proposta do ministro Sergio
Moro (Justiça e Segurança Pública) de reduzir os impostos sobre o
cigarro para combater o contrabando e melhorar a qualidade do consumo.
Faço minhas as palavras do médico Drauzio Varella
sobre a questão. “Não existe cigarro de boa qualidade como também não
existe câncer de pulmão de má qualidade”.
A proposta de Moro, no mínimo, beira a ingenuidade. A Organização
Mundial de Saúde afirma que os impostos sobre o tabaco são a forma mais
efetiva de reduzir seu consumo, especialmente entre jovens e pessoas de
baixa renda. Ao elevar o preço do cigarro em 10%,
diminui-se o consumo em cerca de 4% nos países desenvolvidos e cerca de
5% nos países em desenvolvimento, como o Brasil.
Nesta cruzada, no entanto, há que destacar a iniciativa da Advocacia
Geral da União (AGU) que acionou as duas maiores indústrias de tabaco do
País – Souza Cruz e a Philip Morris – para ressarcir os gastos da rede
pública de saúde com tratamentos de doenças
causadas pelo tabaco nos últimos cinco anos. O valor a ser ressarcido
ainda será calculado, caso a sentença seja favorável à União. Esta é uma
boa iniciativa. Temos que fechar o cerco contra a indústria de cigarro
que trazem malefício à saúde dos fumantes.
Juntas, Souza Cruz e Philip Morris detêm 90% do mercado nacional de
fabricação e comércio de cigarros. No caso de câncer de pulmão, por
exemplo, há estudos que, segundo a AGU, atestam que 90% da incidência da
doença é consequência do uso do cigarro.
Mesmo a com redução do consumo e do número de fumantes, as consequências
do uso do tabaco ainda são grandes à saúde e a economia do País. De
acordo com pesquisa, coordenada pelo Departamento de Avaliação de
Tecnologias em Saúde e Economia da Saúde do Instituto
de Educação e Ciências em Saúde, 428 pessoas morrem por dia no Brasil
em decorrência do tabagismo. Cerca de 12,6% de todas as mortes que
ocorrem no país podem ser atribuídas ao consumo de cigarros. As mortes
por doenças cardíacas respondem pela maior parte
delas: 34,99 mil. Os dados são de 2015 e se referem a pessoas com mais
de 35 anos.
Entre as pessoas que adoecem por causas atribuídas ao tabagismo, as
cardíacas atingem 477,47 mil. A pulmonar obstrutiva crônica vem em
segundo lugar, com 378,59 mil casos, seguida de 121,15 mil com
pneumonia, 59,50 mil de acidente vascular cerebral, além de
73,5 mil diagnosticadas com câncer provocado pelo tabagismo. Desse
total, 26,85 mil com câncer de pulmão.
A pesquisa mostrou ainda que as despesas médicas e a perda de
produtividade atribuídas ao tabagismo alcançam R$ 56,9 bilhões, sendo R$
39,4 bilhões de custos médicos diretos, o equivalente a 8% de todo o
gasto com saúde e a R$ 17,5 bilhões em custos indiretos,
em razão da morte prematura e da incapacidade.
Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual pelo PSB do Paraná.
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