Numa época de tanto desalento em relação a valorização do
trabalho e do trabalhador, com precarização das relações trabalhistas,
com o ataque direto e frontal à aposentadoria dos trabalhadores, fica
muito difícil manter políticas que vão contra o discurso dominante
da grande mídia, embalado pelo apoio dos principais grupos empresariais
e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem na essência do
pensamento econômico que acredita e defende, a redução do custo da mão
de obra, e que acaba inundando as redes sociais.
Mesmo sem horizonte claro no plano nacional de como enfrentar a crise
econômica e retomar a abertura de postos de trabalho – hoje são mais de
13,4 milhões de brasileiros desempregados -, é importante destacar os 13
anos de implantação do piso do salário mínimo
regional do Paraná como uma política consolidada de apoio aos
trabalhadores, em especial, aos que não têm dissídio coletivo ou para
fortalecer as negociações da data-base das categorias representadas por
sindicatos.
O atual piso regional, válido desde o início do ano, varia entre R$
1.306,80 e R$ 1.509,20. É até 33,8% maior ao salário mínimo nacional,
fixado em R$ 998,00. Mesmo a menor faixa do piso salarial no Paraná é
23,6% maior que o mínimo nacional.
Não foi fácil implantá-lo como política de Estado em 2006. Tivemos
resistência de setores do empresariado. Em 16 de maio de 2006, o então
governador Roberto Requião sancionou a lei nº 15.118 regulamentando o
Piso Salarial do Estado do Paraná.
Lembro das reações adversas, unânimes em prever o aumento da inflação,
do desemprego e da informalidade. Não foi uma tarefa fácil enfrentar a
lógica tecnocrata do corte dos salários, da liquidação dos direitos e da
“racionalização” dos custos. Contudo, o que
se viu foi exatamente o contrário. Cresceu a geração de empregos,
diminuiu a inflação, aumentou o número de trabalhadores com carteira
assinada e caiu o índice de desigualdade social.
Participei da histórica reunião promovida pelo governador Requião,
quando em conjunto com os sindicatos, foi decidida a implantação do piso
regional no Paraná.
Hoje, o salário mínimo regional atende de forma direta e indireta mais
de 1,5 milhão de trabalhadores, e além disso movimenta o comércio,
serviços e outros segmentos importantes da nossa economia.
A partir de 2007, na condição de Líder do Governo na Assembleia
Legislativa (Requião), a cada ano a lei de reajuste do piso salarial do
Paraná era objeto de grande reação por parte da classe empresarial.
Em 2011 assumir como Secretário Estadual do Trabalho, impus como
condição ao receber o convite para o cargo, pelo então governador Beto
Richa, a manutenção da política de valorização do piso do salário mínimo
regional no Paraná. Ele aceitou, e me disse que
só tinha um compromisso – o de incluir o setor empresarial no debate.
Foi a decisão mais acertada que tivemos, pois levamos o debate para o
âmbito do Conselho Estadual do Trabalho, que é tripartite, ou seja conta
com a representação patronal, governamental
e dos trabalhadores, por meio dos suas centrais sindicais.
Estabeleceu-se no Paraná um pacto a favor do emprego e renda, pois
passamos a garantir um piso sempre superior a 30% do salário mínimo
nacional.
Atualmente, o Piso Salarial do Estado do Paraná é regulamentado pela Lei
18.766, que foi sancionada em 1º de maio de 2016 pelo então governador
Beto Richa. Naquele ano, na condição de Líder do Governo na Assembleia
Legislativa, auxiliei na coordenação das negociações
sobre os percentuais de reajustes junto às federações patronais e às
centrais sindicais de trabalhadores, garantindo uma regra que norteia a
política do piso de 2016 a 2020.
Nessa negociação foi estabelecido que a data-base do reajuste do piso
salarial seria antecipada um mês a cada ano e o reajuste seria o mesmo
do salário mínimo nacional, que consiste na reposição da inflação do ano
anterior (INPC) acrescido de aumento real equivalente
ao crescimento do PIB de dois anos atrás.
O Paraná, junto com o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, foi um dos
primeiros estados a implantar o piso regional, uma importante conquista
que hoje concilia tanto os interesses dos trabalhadores como dos
empregadores paranaenses.
Após a criação do piso regional, o Paraná registrou, ao longo desses 13
anos, melhora contínua nos índices de geração de empregos e de
trabalhadores com carteira assinada, inclusive com a queda na
desigualdade social.
A partir de 2021, a política de valorização dos pisos salariais a serem
fixados será novamente objeto de negociação tripartite entre as centrais
sindicais e federações patronais, com a participação do Estado e
acompanhamento do Ministério Público do Trabalho
e do órgão responsável pelo setor no governo federal.
Essa comissão tripartite deverá ser constituída até o final do primeiro
semestre de 2020, e será nomeada por meio de resolução do Conselho
Estadual do Trabalho, Emprego e Renda – órgão encarregado de fazer o
monitoramento e avaliação da política estadual de
valorização do piso salarial do Paraná.
Agora, no plano nacional, enfrentamos problemas. Em 2020 não haverá
aumento real do salário mínimo nacional. No projeto de Lei de Diretrizes
Orçamentárias do ano que vem a ser enviado ao Congresso Nacional, o
valor do mínimo deve apenas repor as perdas inflacionárias,
e não mais considerar o crescimento da economia do país, como vinha
acontecendo desde 2011.
O motivo é que a lei que determinava a regra de considerar também a
variação do PIB expirou e a equipe do ministro Paulo Guedes propôs a
correção da remuneração básica apenas pela inflação medida pelo índice
INPC no ano anterior. Pelo novo cálculo, o valor
ficará, até agora, em R$ 1.040.
É preciso estarmos atentos com essa ‘nova política’ do salário mínimo
nacional para evitar que as conquistas alcançadas nos últimos anos, de
forma racional e pactuada, não sejam precarizadas na lógica torta dos
tecnocratas de plantão. E vale sempre lembrar
que o aumento real do salário mínimo nos últimos anos é apontado por
especialistas como um dos responsáveis pela queda da pobreza no país.
Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual pelo PSB do Paraná.
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