O bairro Aeroporto é um dos maiores da cidade de Jacarezinho, onde moram
aproximadamente oito mil pessoas. A um quilômetro das casas periféricas
está localizada a Pedreira Alvorada, instalada no local há cerca de 15
anos. Desde que iniciaram as atividades, a empresa utiliza-se de
explosivos para comercialização de basalto. Moradores da redondeza
alegam que os fortes estouros causam tremores no solo, danificando a
estrutura das residências mais próximas. A empresa, no entanto, afirma
que cada detonação é precedida de estudos para evitar impacto nas casas.
Entre as residências consideradas mais danificadas, com risco de
desabamento, está a de Maria Luiza Procópio, 53, e Jesualdo Raunaimer,
41. No terreno onde residem, há três casas, onde moram nove pessoas.
"Vivemos aqui há 25 anos. Depois que a pedreira se instalou e iniciaram
as bombas, a cada explosão a casa piora mais. Nós não temos dinheiro
para fazer reformas e a situação vem se agravando. Até 21 dias atrás a
casa estava praticamente desabando, com trincas profundas. Nenhum
pedreiro queria mexer, por risco. Conseguimos que dois fizessem reparos
emergenciais.Colocaram ferro no meio da parede, mas já avisaram que
mesmo assim não é confiável. Temos muito medo", conta Raunaimer.
Outra
moradora que se queixa é Maria Izabel de Souza, 46. A casa dela foi
construída em mutirão, há quase 30 anos, como centenas no bairro. Ela
alega que os tremores causaram afundamento no piso e uma fresta
profunda, que possibilita enxergar através da parede. "No início os
tremores eram frequentes, agora tem diminuído, cerca de uma ou duas
vezes por mês, mas mesmo assim é muito forte, conseguimos ver a casa
tremendo, fora a poeira que cobre todo o bairro depois."
TREMORES
A aposentada Maria Conceição Miranda Gomes, 69, mora
há 23 anos no bairro. Ela conta que sente muito medo cada vez que
acontece uma explosão na pedreira. "Sentimos tremer o chão, parece que a
casa está andando". Ela aponta diversas rachaduras pela casa, bem como
pisos que teriam se deslocado da parede em função dos tremores.
"Reclamamos várias vezes na Prefeitura, mas ninguém faz nada."
Anderson Lopes da Silva, 36, é autônomo e mora com sua família
no bairro desde criança. "Depois que começaram as explosões, apareceram
as rachaduras. Teve uma vez que foi tão forte que eu consegui ver um
pedaço da parede caindo. Vivemos fazendo reforma na casa, mas nunca
recebemos nenhum auxílio."
A aposentada Maria Aparecida Soares, 72, conta que os moradores tentam
com frequência vender os imóveis onde vivem. "Mas quando o comprador
sabe dos problemas da pedreira, logo desistem", diz. Ela mostra o
afundamento no teto e diversas rachaduras pela casa. "Todo mundo vive
assim por aqui, fazendo remendos na casa."
AÇÕES
Em busca de reparações pelos danos, cerca de
400 moradores se organizam para entrar com ações na Justiça. Um dos
advogados que está orientando o caso, Francisco de Assis Fersosino
Rodrigues, conta que a intenção é "quebrar a impunidade". "Há anos
existem reclamações na Prefeitura, mas nada sério é feito. Queremos
saber quem deu autorização para uma pedreira se instalar tão perto de um
bairro, e como é possível minimizar os prejuízos que tantas pessoas, em
geral de baixa renda, sofreram."
A FOLHA entrou em contato com a
Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de Jacarezinho e o
servidor Luiz Lira informou que houve vistoria junto ao bairro Aeroporto
por diversas vezes em anos recentes, com remessa do laudo à
procuradoria jurídica. A Secretaria não informou detalhes do laudo. A
reportagem tentou vários contatos com a procuradoria do Município para
verificar quais os procedimentos tomados, porém não houve retorno até o
fechamento desta edição.
FONTE: RÚBIA PIMENTA - JORNAL FOLHA DE LONDRINA
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