A
pouco mais de um mês das eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
abre o debate sobre a possível punição de candidatos que se utilizam de
espaços religiosos para campanhas políticas.
A
cassação dos mandatos do deputado federal Franklin Roberto Souza
(PP-MG) e do deputado estadual Márcio José Oliveira (PR-MG), confirmada
pelo TSE, levantou a discussão sobre abuso do poder religioso, que não
está previsto na legislação, mas é suscitado na esteira do abuso do
poder econômico.
No
julgamento dos parlamentares mineiros, o ministro Jorge Mussi citou a
decisão de abril do ano passado, que proíbe campanha em eventos
religiosos. Na ocasião, o relator foi ex-ministro Henrique Neves, que
ressaltou que a liberdade religiosa não pode ser utilizada para fins
políticos.
Diz
a decisão de Henrique Neves que, "em nenhuma hipótese, a proteção
constitucional à livre manifestação de crença e à liberdade religiosa
permite que tais celebrações convertam-se em propaganda, seja mediante
pedido de voto, distribuição de material de campanha, uso de sinais,
símbolos, logotipos ou ainda manifestações contra ou a favor de
candidatos".
Além
de perder o mandato por abuso do poder econômico, praticado nas
eleições de 2014, os dois deputados foram punidos com inelegibilidade
por oito anos.
Os
ministros determinaram a imediata execução da decisão, com o
afastamento dos políticos cassados e a posse dos suplentes, sendo
desnecessário aguardar o trânsito em julgado da decisão.
Exemplo
O
TSE confirmou o julgamento do Tribunal Regional Eleitoral de Minas
Gerais (TRE-MG), que condenou os deputados por terem participado de
evento religioso da Igreja Mundial do Poder de Deus, na véspera do
primeiro turno das eleições de 2014.
No
evento, que reuniu cerca de 5 mil pessoas, o apóstolo Valdemiro
Santiago, líder da igreja, pediu votos para os dois no microfone e em
panfletos distribuídos.
Segundo
a denúncia, o líder religioso pediu que cada fiel conseguisse “mais dez
votos” para os candidatos. O deputado estadual é sobrinho do religioso.
Para a presidente do TSE e relatora do processo, ministra Rosa Weber,
os fatos relatados são de "enorme gravidade". O evento foi amplamente
divulgado, durou cerca de quatro horas e teve shows artísticos.
O
advogado Rodrigo Queiroga, da defesa dos dois deputados, disse que irá
recorrer da decisão ao próprio TSE, com embargos de declaração, e,
posteriormente, ao Supremo Tribunal Federal (STF), com recurso
extraordinário. A ideia é conseguir descaracterizar o abuso de poder
econômico para evitar que ambos sejam inelegíveis. Franklin registrou
candidatura à reeleição, mas Márcio não.
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