Em fevereiro de 2017, Vladimir Putin sancionou uma lei que garante
aos maridos russos o direito de bater em suas mulheres e filhos uma vez
por ano, com penas atenuadas. As penas mais graves, que eram aplicadas a
toda agressão doméstica, agora só servirão para quem quebrar ossos, ou
para quem agredir duas vezes dentro do mesmo ano. Quem só causar
sangramento sem fratura, por exemplo, paga uma multa ou, no máximo, 15
dias de cadeia.
Pelos lados de cá, o Itamaraty e o Ministério do Esporte fizeram o
Guia Consular do Torcedor Brasileiro, com objetivo de orientar quem
fosse à Copa do Mundo. Entre várias recomendações, fizeram um alerta
especial à comunidade LGBT.
A recomendação era para que não houvesse demonstrações públicas de
carinho na Rússia. Isso envolve beijar e andar de mãos dadas, por
exemplo.
Enquanto isso, rapazes alegres, provavelmente embalados por generosas
doses de vodca, ou por pura falta de educação mesmo, em um ato machista
e misógino, fizeram uma grosseria que envergonhou milhões de
brasileiros.
Os brasileiros aparecem em um vídeo, assediando uma mulher na Rússia,
durante a Copa do Mundo, em imagens que repercutiram nas redes sociais,
gerando revolta entre personalidades e internautas.
O comportamento machista, desrespeitoso não apenas à mulher russa,
mas também aos cidadãos russos, pelos insultos e humilhação da honra e
dignidade de um grupo de mulheres que gentilmente tentava superar a
barreira linguística, para se comunicar com os estrangeiros.
Estamos em 2018. Tivemos avanços nas mais diversas áreas, com
mulheres ocupando espaços em que antes só homens prevaleciam. E ainda
assim, vemos atitudes como essa ocorrida na Rússia, nos mais diversos
locais. Então a pergunta que fica é – Até quando teremos que conviver
com atitudes desrespeitosas e preconceituosas contra as mulheres? Quando
prevalecerá em nossa sociedade respeito e igualdade de direitos entre
homens e mulheres?
Na verdade a nossa sociedade é pendular entre os que tem uma visão
conservadora da “tradicional família brasileira” em que mulher deve ser
apenas mãe e esposa, não tendo personalidade independente e aquelas
famílias que são chefiadas por mulheres, porque os homens simplesmente
se eximiram de seu papel ao terminarem um casamento para começar outro,
deixando na maioria das vezes, filhos (as) desamparados.
Independente do lado que está o pêndulo, uma coisa é comum – os
alarmantes índices de violência contra mulher, pois a cultura da
violência doméstica resiste a toda revolução tecnológica que temos
experimentado e principalmente à democracia.
O modelo de sociedade russo, que escancara e radicaliza quando da uma
“permissão” para essa violência, não está tão distante do modelo de
família brasileira, onde os homens, dentre outras coisas, apontam qual
profissão é adequada é compatível para mulher exercer, o que limita, por
exemplo, participação feminina na política.
O Brasil ocupa uma vergonhosa quinta colocação entre os países mais
violentos para mulheres, no ranking da Organização das Nações Unidas
(ONU), e não há dúvidas que é preciso novas iniciativas para coibir a
violência – seja física, psicológica ou lorpa, promover a garantia de
todos os direitos das mulheres.
As mudanças envolvem toda a sociedade, mas cabe ao poder público
assumir um papel de protagonista no desenvolvimento de ações
preventivas, informativas e protetivas junto à população e vítimas.
Se por um lado devem ser criadas leis mais rigorosas, para que não
passe impune um agressor, por outro devem ser fortalecidas Políticas
Públicas que permitam ensinar, desde a primeira infância, que respeito
se pratica todos os dias. Devemos, enquanto sociedade, romper os mais
diversos estereótipos que hoje são replicados sem que se pense nas
consequências futuras.
E que possamos tomar como exemplo a Espanha, país que sempre teve sua
sociedade pautada no tradicionalismo, mas que deu uma lição ao mundo
quando o novo primeiro ministro escolheu mulheres para ocuparem 11 dos
seus 17 ministérios – prova inequívoca de que para crescer de maneira
sustentável, há que se ter base com direitos e oportunidades iguais para
todos.
E sempre é bom lembrar que o machismo não faz mal só às mulheres, mas aos homens também.
Boa semana, Paz e Bem!
*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão
urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e
ex-secretário do Trabalho, é deputado estadual pelo PSB do Paraná.
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