As "repúblicas" - moradias de estudantes, onde as
despesas são compartilhadas- são comuns em cidades que possuem universidades
que atraem pessoas de cidades longínquas. Em Cornélio Procópio, Bandeirantes e
Jacarezinho, eles dominam os bairros próximos das faculdades. Cheios de alegria
e disposição, porém, com pouco dinheiro para gastar em casas noturnas, esses
jovens têm nas festas de república uma de suas principais fontes de lazer. A
convivência entre estudantes e as famílias desses bairros, porém, é muitas
vezes conflituosa por conta de reclamações de barulho excessivo em algumas
reuniões estudantis.
Em Cornélio Procópio, a situação chegou ao ápice, com
intervenção do Ministério Público, na madrugada de uma quarta-feira de junho,
quando a Polícia Militar interditou uma festa em uma república na Avenida XV de
Novembro, região central, onde estavam 130 jovens. "Era uma festa com
divulgação, venda de ingressos e bebidas liberadas, sem nenhuma estrutura de
segurança. Foram identificadas 12 pessoas com menos de 18 anos. Um deles estava
em coma alcoólico e precisou ser socorrido. Os responsáveis pela festa estão
respondendo criminalmente por fornecer bebidas alcoólicas a adolescentes e
administrativamente por permitir a entrada deles desacompanhados dos
pais", afirma o promotor de Justiça da área criminal em Cornélio Procópio,
Francisco Ilídio Hernandes Lopes.
A discussão tem causado reclamações de ambos os lados:
estudantes e famílias. Os universitários relatam que vivem em cidades com
poucas e caras opões de lazer. "Estamos longe de casa, os estudos na
universidade são puxados, quando temos uma folga, é normal e saudável querermos
nos reunir com os amigos", diz Camilo Ribeiro, estudante de Engenharia
Mecânica da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal de Cornélio Procópio). Ele
mora com outros quatro rapazes em uma república na Rua dos Expedicionários,
perto da instituição, onde existem muitas moradias de estudantes.
Uma senhora que reside no bairro há 20 anos, e não quis se
identificar, conta que vive com duas crianças e a mãe idosa. "Tem muitas
repúblicas aqui perto. Algumas são tranquilas, mas outras fazem festas quase
toda semana. Houve uma vez que tinha tanta gente que tomou a rua. Quando o
barulho está muito alto minha mãe sai do quarto dela e tenta dormir na sala. Já
chamamos a polícia algumas vezes. É ruim, pois as festas acontecem mesmo
durante a semana."
LEVANTAMENTO
A Polícia Militar de Cornélio Procópio recebe diariamente
reclamações por perturbação ao sossego. "Com bastante frequência são
festas em repúblicas. Quase sempre eles (os universitários) são bastante
solícitos em abaixar o volume das festas", afirma a tenente Karine
Bittencourt da Silva. Conforme a policial, o problema tende a continuar, pois
as pessoas que chamam a viatura dificilmente querem se identificar, por medo de
se indispor com os vizinhos. "Sem isso, nós podemos fazer apenas uma
orientação, o que permite, muitas vezes, que esse comportamento se
repita". Com a representação, é possível que a queixa chegue ao Fórum,
onde as sanções penais, como pagamento de multa, cesta básica ou prestação de
serviço comunitário sejam aplicada aos infratores, além de detenção em meio
aberto.
O problema também se repete em Bandeirantes. Conforme a
Polícia Militar são cerca de 10 orientações por semana em repúblicas, com
ocorrência maior na Vila Maria Alice, bairro próximo à Uenp (Universidade
Estadual Norte do Paraná).
Em Jacarezinho, segundo o coronel Antônio Moraes, da Polícia
Militar, não há um problema focado em repúblicas estudantis e sim nos bares da
região central, que atendem esse público. "Nos fins de semana são pelo
menos cinco chamados, por madrugada, de perturbação ao sossego causada por
festas e bares".
Para o promotor de
Justiça de Cornélio Procópio, Francisco Ilídio Hernandes Lopes, as festas de
república se tornam um problema quando ocorrem de forma irregular. "Se a
festa reunir grande número de pessoas, com venda de ingressos, é necessário que
ocorra em um local adequado, como um clube ou uma casa noturna, com alvará da
Prefeitura, acompanhamento do Corpo de Bombeiros e Polícia Militar, para
garantir a segurança e evitar tragédias como vimos em Santa Maria
(RS)".
FONTE:
Rúbia Martoni – Jornal Folha de Londrina
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