Diante
de desafios monumentais e com pouco tempo disponível, o governo tomou
duas iniciativas para tirar a educação brasileira da UTI: enfrentar a
crise do setor pelo seu maior gargalo – o Ensino Médio, e agilizar a
aprovação de uma reforma por meio de medida provisória. Se a necessidade
de mudar o ciclo final da Educação Básica é consenso, o caminho
legislativo adotado tem sido alvo de resistências. Acusam a estratégia
do governo de restringir o debate e forçar uma decisão sem o respaldo
dos principais setores interessados. Pior, ingressaram com ações de
inconstitucionalidade da medida no STF por entender que ela não atende a
pressupostos de urgência e relevância. Os argumentos não procedem.
A reforma do
Ensino Médio é um debate atual, mas não é novo. Tem início ainda em
meados dos anos 90 durante a discussão e aprovação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação. Com a LDB, o Ensino Médio deixou de ser considerado
apenas como meio de acesso ao Ensino Superior, para ser a etapa final da
Educação Básica. A discussão prosseguiu com diretrizes curriculares
nacionais em 1998 e com os debates sobre a reforma do Ensino Médio na
Comissão de Educação em 2002, que evoluiu para a criação do Fundeb.
A criação do
novo Enem, em 2009, no entanto, acabou por reforçar o Ensino Médio como
preparatório para o vestibular, aprofundando o seu caráter excludente e
engessado. De 2010 a 2014, intensos debates antecederam a aprovação do
Plano Nacional de Educação, que, entre outras diretrizes, preconiza a
universalização do Ensino Médio, a melhoria da qualidade e a
flexibilização do sistema e dos currículos, para atender melhor às
necessidades e demandas da juventude.
O redesenho
curricular já vinha sendo perseguido em ações articuladas do Programa
Ensino Médio Inovador com a formação continuada de professores, que
materializavam as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Médio
definidas pelo Conselho Nacional de Educação em 2012. Lançado no ano
seguinte, o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio procurou
coordenar as ações e estratégias entre União e os governos estaduais e
distrital na formulação e implantação de políticas para elevar o padrão
de qualidade do Ensino Médio. Mas todas essas iniciativas não foram
suficientes para deslana reforma desejada.
Como se
evidencia, não há açodamento e nem falta de canais de diálogo. O que há é
falta de decisão. O Brasil começou os debates muito antes de outras
nações que já promoveram suas mudanças curriculares.
O Congresso
tenta cumprir o seu papel, mas o sistema bicameral e um processo
legislativo extremamente favorável às obstruções das minorias
dificultam, quando não inviabilizam, o processo decisório. A Câmara tem
uma proposta de reforma do Ensino Médio pronta para a pauta do plenário.
Ela consolida 17 meses de debates na comissão especial, que ouviu
especialistas e interessados no assunto entre 2013 e 2014.
A proposta
enviada pelo governo reproduz em grande parte o projeto aprovado na
Câmara e a criação, agora, de uma comissão mista para decidir sobre ela
restaura, e não restringe, o debate. Melhor: permite que as discussões
sejam retomadas com a participação de todos os atores interessados –
professores, alunos, gestores e pesquisadores, diante de um colegiado
formado por deputados e senadores, o que facilita a negociação e
viabiliza sua aprovação na urgência que a matéria requer.
Estudo
mostra que 1,3 milhão de jovens de 15 a 17 anos abandonam escola todos
os anos, elevando a evasão nessa fase de 5% em 2004 para 19% em 2014. O
Ideb divulgado recentemente indica que o nosso Ensino Médio está
estagnado desde 2011, quando, 5,2 milhões de jovens de 15 a 24 anos
estavam fora da escola e 58% estavam abaixo do nível de proficiência
esperado. O quadro indica que essa é, sim, uma matéria relevante e
urgente.
Precisamos
aproveitar esta grande oportunidade – a disposição política do governo, o
conhecimento acumulado e a mobilização de alunos e professores Brasil
afora – para fazer escolhas que não podemos mais adiar. Vamos juntos
construir a Educação que País sonha e os brasileiros merecem.
* ALEX CANZIANI SILVEIRA, Deputado federal pelo PTB do Paraná, é presidente da Frente Parlamentar da Educação do Congresso Nacional e membro da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados
* ALEX CANZIANI SILVEIRA, Deputado federal pelo PTB do Paraná, é presidente da Frente Parlamentar da Educação do Congresso Nacional e membro da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados
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