Abertas as urnas, computados os votos, o fato relevante em Curitiba é
a derrota do prefeito Gustavo Fruet (PDT) já no primeiro turno. A
pesquisa Ibope divulgada no sábado (1) já sinalizava a indefinição em
relação ao adversário de Rafael Greca (PMN) e mostrava o crescimento do
candidato Ney Leprevost (PSD), mas se a derrota de Fruet surpreendeu
muitos, a vitória de João Dória (PSDB) em São Paulo, já no primeiro
turno, foi ainda mais inesperada.
Dória é o primeiro prefeito de São Paulo eleito em primeiro turno
desde 1992, quando as eleições passaram a ter dois turnos. Na primeira
pesquisa, o tucano apareceu com 5% para no fim das contas vencer no
primeiro turno, derrotando três candidatos que já foram prefeitos da
capital paulistana, Marta Suplicy, Luiza Erundina e o atual Fernando
Haddad. Foi um verdadeiro furacão.
Essa foi uma campanha diferente de todas as outras. Foi uma campanha
sob a égide da Lava Jato- candidatos mais à esquerda foram derrotados,
com pouquíssimas exceções. Foi uma campanha muito mais curta, com
duração de apenas 45 dias, metade do tempo de campanha das eleições
anteriores. No rádio e na tevê foram apenas 35 dias, com início em 26 de
agosto e encerramento no dia 29 de setembro. Os blocos do horário
eleitoral gratuito, nas eleições para prefeito, tiveram o tempo de
duração reduzido de 30 minutos para 10 minutos.
Foi também, especialmente nas capitais e grandes cidades, a eleição
onde o eleitor revelou o maior desinteresse. Acredito que dois fatores
levaram a essa apatia. O primeiro é o processo de demonização da
atividade política e dos políticos. Para os que só tem acesso limitado à
informação, política virou sinônimo de corrupção e todos os políticos
não prestam.
Essa generalização, incentivada por parte da mídia que acredita que
jornalismo é só oposição a quem está no poder, só gera mais
desinformação. Diariamente, parte dessa mídia divulga notícias parciais,
vaza informações que lhe convém, assassina reputações, insufla o ódio
contra políticos e partidos. A política- que é um instrumento para
transformar para melhor a vida das pessoas- passou a ser vista por uma
parcela expressiva da população como uma atividade espúria, exercida
apenas por oportunistas. Essa percepção equivocada leva as pessoas ao
desencanto e ao desinteresse.
Por outro lado, a reforma eleitoral também limitou muito as
campanhas. Proibiram-se os cavaletes, limitou-se o tamanho dos cartazes e
placas. Os candidatos a vereador foram escanteados da campanha no rádio
e tevê, apareceram apenas nas inserções pulverizadas ao longo da
programação normal.
Nas médias e pequenas cidades, onde sempre se fez campanha gastando
sola de sapato e conversando com os eleitores, nas ruas, de casa em
casa, as mudanças na legislação não interferiram tanto no nível de
conhecimento que os eleitores têm dos candidatos, mas nas grandes
cidades e capitais, em que é praticamente impossível se tornar conhecido
do eleitor sem o uso da comunicação visual, as restrições da legislação
só aumentaram o desconhecimento e o desinteresse dos eleitores. Para
2018, acredito que essas restrições devem ser revistas- sou dos que
acreditam que a praça é do povo, como o céu é do condor e uma boa
campanha eleitoral se faz nas ruas e não apenas em programas eleitorais e
redes sociais.
O fim do financiamento empresarial- que sempre defendi- com as
consequentes restrições no orçamento das campanhas, fez sumirem os
carros de som, jornais de campanha, placas, faixas e cabos eleitorais.
Mas a proibição do financiamento eleitoral por empresas não
significou necessariamente uma campanha com mais lisura. Uma reportagem
do UOL revelou que um grupo de trabalho do Tribunal de Contas da União
apontou indícios de irregularidade em 1 de cada 3 doadores que
contribuíram para as campanhas municipais. Entre as principais suspeitas
de irregularidade estão a contribuição feita por pessoas que aparecem
registradas como mortas ou são beneficiárias do programa Bolsa Família.
Acredito que as restrições para captação de recursos de empresas devem
ser mantidas, mas que as verbas do fundo partidário precisam ser melhor
direcionadas, ao lado da permissão de doações de pessoas físicas, com
ampla transparência e fiscalização. Campanhas mais baratas, a meu ver,
são muito bem vindas.
Percorri aproximadamente 90 municípios nesta campanha eleitoral,
apoiando candidatos a prefeito e vereadores. E comprovei que enquanto
nas médias e pequenas cidades a população demonstrava grande interesse
na eleição de prefeitos e vereadores, participando de reuniões e
comícios, na capital até parecia que não haveria eleição. Em Curitiba,
campanha mesmo praticamente só na tevê e no rádio. Nas ruas, apatia. O
resultado das urnas comprova esse desinteresse. A abstenção em Curitiba-
quando o eleitor não comparece para votar, chegou a 211 mil votos. Os
votos nulos foram 96 mil e os votos em branco 51 mil. Somados, são 360
mil votos que não foram dados a ninguém.
Em relação a 2012, a abstenção dobrou (de 106 mil para 211 mil). O
número de votos nulos cresceu 71%. Foram 56 mil em 2012. Agora, o número
subiu para 96 mil. Os votos brancos cresceram 50%, de 34 mil em 2012
para 51 mil nesta eleição. O colégio eleitoral de Curitiba totaliza
1.289.215 eleitores.
A partir de agora, em Curitiba, Maringá, Ponta Grossa e outras 51
cidades do país, incluindo 17 capitais, começa uma nova campanha. Um dos
desafios é conquistar o voto dos desinteressados e apáticos, mostrar a
importância da participação popular, fazer com que os eleitores prestem
atenção às propostas e soluções apresentadas pelos candidatos. Quando
não participa, vota branco ou nulo, o cidadão delega a outro o seu
destino e o destino de sua cidade.
Parabenizo a todos os eleitos e eleitas neste domingo. A situação
econômica do país é desafiadora e as cidades precisam de soluções cada
vez mais inovadoras. Vão se sairão bem aqueles gestores que prezarem
pela responsabilidade e transparência, com o respeito à população. Da
minha parte, continuo com o mandato na Assembleia Legislativa Do Paraná à
disposição dos vereadores e prefeitos de todo o Paraná para ajudar nas
demandas que nossas cidades precisam.
Boa Semana. Paz e Bem.
*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista
em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar,
e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na
Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder
e Governo.
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