A difícil tarefa de sair do fundo do poço

O professor Ernane Galvêas, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, em sólido estudo publicado pelo boletim Síntese da Conjuntura, da Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo, oferece uma ampla visão do descalabro financeiro em que vivem os governos no país, nas esferas nacional, estaduais e municipais.
O excesso de pessoal no funcionalismo público chega ao absurdo, com salários incompatíveis com os recursos fiscais, diz o professor. Assim o governo vai acumulando uma dívida pública que evolui para se tornar impagável. A dívida bruta do governo federal subiu de 57,2% do PIB em 2014 para 75,5% em 2016, a caminho de chegar em 80% em 2018 e 100% depois de 2018. É sobre esta dívida brutal que o Banco Central impõe a taxa de juros brasileira, disparada a mais alta do mundo, restringindo o sistema de crédito ao setor produtivo.
O exagerado crescimento do Estado e da burocracia oficial se fez acompanhar de pesada carga tributária, que atinge hoje 32,7% do PIB, com total divergência entre a política econômica e a política monetária.
Não podemos tirar os méritos do esforço que vem sendo realizado pelo novo governo, tentando recolocar o país no caminho do crescimento, mesmo encontrando resistências. A PEC 241, que limita os gastos do Executivo, Legislativo e Judiciário, foi contestada juridicamente. Sem dúvida, enfrentará os privilégios que beneficiam algumas das classes que compõem o funcionalismo.
Por conta da falta de planejamento e gestão dos governos chegamos ao caótico número de 12 milhões de desempregados. Alguns estados não têm recursos para pagar seu pessoal, outros estão parcelando salários.
O varejo, por conta dos problemas econômicos do país, em 2015 empregou 7,9 milhões de pessoas, menos 2,1% em relação a 2014, com o corte de 171,9 mil postos de trabalho. Só no setor do comércio de veículos, que este ano luta para voltar aos índices de 2006, houve demissões de 30,5 mil pessoas, resultado da redução do volume de vendas em 10,6%.  
A recessão ainda resiste. O resultado projetado é de -2,9% no PIB em 2016, ainda que já se prevejam horizontes menos desfavoráveis. Com o aumento do índice de confiança, o Real valorizou-se e a Bovespa já contabiliza ganhos de 28%. Comenta-se que o país poderá receber, por meios de fundos de investimentos, até U$ 500 bilhões no próximo ano. É importante notar que boa parte deve ser destinada a obras em infraestrutura e aquisições resultantes dos programas de privatização.
Mas a melhor notícia ficou para o final. Aqui no Paraná, na sexta-feira, 28 de outubro, assinamos convênio com a Caixa Econômica Federal pelo qual será destinado R$ 1,5 bilhão para o setor do comércio de bens, serviços e turismo. São micro, pequenas e médias empresas que poderão recompor seu capital de giro, ampliar estoques, investir em contratação, qualificação e aprimoramento da gestão.
Uma notícia tão positiva que seria impossível imaginarmos algo assim no início deste ano, sob o governo anterior. É a redenção do nosso comércio, cansado de notícias negativas.

Darci Piana
Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR
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