Todo
sábado, pela manhã, cerca de 40 jovens carentes que residem no complexo de
bairros do Aeroporto, em Jacarezinho, participam de um projeto social que tem
se tornado um sopro para ir além. Por meio das atividades desenvolvidas na “Escolinha
de Karatê do 2º Batalhão”, há uma nova realidade sendo cultivada para as
crianças e os jovens da localidade. Muito além de se ensinar as defesas e os
ataques dessa arte marcial milenar, o projeto busca sedimentar valores como o
respeito, a disciplina e a busca constante pela retidão de caráter.
O supervisor
técnico da Escolinha, mestre Paulo Alexandre Chrispim, 50 anos, professor de
Karatê faixa preta e um dos responsáveis pela iniciativa, salienta que o
objetivo das atividades é utilizar o Karatê em prol do desenvolvimento social,
disciplinar e intelectual de meninos e meninas, com a finalidade de afastá-los
da criminalidade e do mundo das drogas. “A minha
função com esses jovens é a de buscar lapidar o caráter, o espírito e o coração
deles através da arte marcial”, pontua o professor que treina Karatê desde os
10 anos de idade.
O projeto, promovido
pelo 2º Batalhão de Polícia Militar de Jacarezinho, que disponibiliza o espaço e
todo material necessário para os treinamentos, teve início há quatro anos com o
apoio do coronel Airton Sérgio Diniz. Chrispim
comenta que a escolinha, que já atendeu a mais de 200 alunos, existiu por algum
tempo com apoio de alguns setores públicos, mas não deram continuidade. “Após
esse tempo, conversei com o coronel Diniz, e ele se colocou à disposição para
dar continuidade ao projeto. Com o apoio dele, um recurso foi aprovado para
compra do material para a realização da Escolinha”, acentua.
“Esse
trabalho possibilita influenciar o presente para se pensar um futuro melhor. Essa
arte marcial é amparada na disciplina e possui toda uma filosofia pautada na
cultura oriental. Com o Karatê, é possível se fortalecer fisicamente,
mentalmente e espiritualmente”, reconhece Chrispim. “Sempre ensino aos
jovens que é preciso praticar o Karatê fora do dojo (academia), respeitar os
pais, a família, o próximo e temer a Deus, e que o amor, a humildade e o
respeito pelo semelhante têm de estar dentro do coração e nunca usar o Karatê
como meio de violência”, pontua.
O
comandante do 2º Batalhão, coronel Antônio Carlos de Morais, enaltece
a realização das atividades e salienta a importância do projeto. “Esse investimento
feito agora certamente dará um norte para a vida desses jovens, possibilitando
um destino diferente daquilo que as ruas poderiam dar a eles. O investimento no
presente possibilitará a esses meninos e meninas um futuro melhor, para que
sejam pessoas de bem no amanhã”, frisa o coronel.
Mudança de Vida
Aprendendo que o Karatê é uma arte aliada da justiça e da própria
defesa sem atitude ofensiva, que busca lapidar o corpo e o espírito, os jovens
karatecas que integram o projeto já testemunham uma mudança de vida. Wellington
da Silva Cândido, 15 anos, há cinco na Escolinha, já passou pelas faixas
branca, amarela, vermelha e laranja. Mais do que uma troca de cor das faixas,
ele partilha um novo jeito de encarar a vida. “Eu brigava muito antigamente e,
hoje, não faço mais isso. Hoje tenho mais respeito com minha mãe, meu pai e na
escola”. Lucas da Silva Cândido, 17, há quatro anos no projeto, segue os passos
do irmão. “Com a disciplina exigida, aprendi a obedecer mais minha mãe e o meu
pai. Parei de andar com a molecada, de beber. Antes era (uma pessoa) ruim, agora
melhorei”. Com o aprendizado, Lucas já começa a fazer planos para o futuro.
“Quero ser professor de Karatê e e estudar Educação Física”.
Joyce Kelly
Azevedo, 18, a
quase dois anos frequentando os treinamentos, comenta: “Eu não vejo as coisas
como via antes. Hoje tenho um grau de respeito maior pelo próximo. Quando
comecei, estava no ensino médio. Agora curso Pedagogia. Com base nisso, passei
a levar a escola a sério. Além disso tudo, houve uma melhora na minha vivência
familiar”. Michele Senem, 15, há três anos no projeto, comenta que melhorou
muito sua convivência familiar. “Eu era muito nervosa, estressada. Hoje sou
mais calma em casa com os pais. Noto que melhorei como pessoa”.
CRÉDITO: Tiago Ângelo
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