Idoso é “esquecido” na agência da Previdência Social em Jacarezinho

O servidor público Antônio Darcy Nunes, 63, mais conhecido como Tonhão da Máquina, foi deixado na agência da Previdência Social em Jacarezinho pelo motorista de um dos veículos da Secretaria Municipal da Saúde de Santo Antônio da Platina, na manhã de segunda-feira, 3. Sem dinheiro, celular e em jejum, Nunes precisou da caridade de pessoas que estavam na agência, para voltar a Santo Antônio de ônibus. Segundo uma de suas enteadas, a diarista Marcia, a cada seis meses, o padrasto é obrigado a passar por perícia médica para permanecer afastado de suas funções por causa de um derrame que sofreu há um ano e meio e que o deixou com problemas de locomoção. “Essa é a terceira vez que fazem isso com ele. Agora, a minha paciência e de meus irmãos se esgotou. Não se pode tratar assim um ser humano e ainda por cima, colega de trabalho. Meu padrasto mal consegue andar. Ele se arrasta, se move praticamente de quatro. Imagina como ele fez para descer do ônibus e chegar em casa”, disse indignada.
Marcia também disse que o padrasto foi para Jacarezinho sem acompanhante porque ele não avisou a família com antecedência, que tinha agendamento com a perícia. “Todos os enteados trabalham e precisamos saber com antecedência das viagens para poder avisar no serviço. Minha mãe é analfabeta e não tem condições de ajudá-lo fora de casa”, disse.
Tonhão não queria contar o ocorrido aos parentes, mas acabou explicando que o veículo da prefeitura foi buscá-lo em sua casa, na rua Tiradentes, em Santo Antônio da Platina, e que ele foi para Jacarezinho sem dinheiro porque ia voltar com a mesma condução. Ao chegar ao INSS, o motorista disse para Tonhão telefonar para o celular dele quando estivesse pronto. Como não tinha um celular, assim que acabou de ser examinado pelo perito, o servidor pediu à funcionária da agência telefonar para o número do motorista, só que quem atendeu a ligação foi uma pessoa estranha. Ao ver o seu desespero, outro homem que também aguardava a perícia deu a Nunes o dinheiro para que ele voltasse de ônibus para Santo Antônio. “Agrademos muito esse senhor, mas imagine como o meu padrasto fez para caminhar até o ponto de ônibus. E também quando chegou aqui. Ele andou um bom trecho praticamente de quatro, até que lhe deram carona até o barracão da prefeitura e de lá um funcionário ligou para meu irmão ir buscá-lo. É muito humilhante passar por isso depois de tantos anos de dedicação ao município. Nem seus próprios colegas o pouparam de passar por essa situação”, lamentou a enteada.
Falha
O encarregado do setor de Transportes da Secretaria Municipal da Saúde, Odair Aparecido da Silva admitiu que houve uma falha do motorista ao deixar Nunes sozinho em Jacarezinho, mas também acredita que a família errou ao deixá-lo viajar sozinho. “Como a demanda por transportes é muito grande, recomendei ao motorista que levasse apenas os dois pacientes com necessidades especiais para Jacarezinho, deixasse cada um no lugar onde tinham que ir e que voltasse para Santo Antônio para pegar mais pacientes, enquanto os dois primeiros estavam no médico. Também pedi para que deixasse o número de celular para eles ligarem quando estivessem prontos. O problema é que eu não sabia que Tonhão estava desacompanhado”, disse reconhecendo que o paciente não tinha condições de lidar com a situação sozinho. “Foi realmente uma situação muito triste, porque aquele senhor não tinha a menor condição de se virar sozinho, de usar um celular. Isso jamais deveria ter acontecido. Eu sinto muito pela nossa falha, e posso dizer que isso serviu de lição. Na próxima vez que um paciente em condições semelhantes a dele precisar sair da cidade, terá que ser acompanhado por um membro da família, ou então, não levaremos mais. Já conversei com os motoristas sobre isso”, disse.
Odair também falou sobre o acúmulo de gente que necessita de transporte da Saúde. “A demanda é muito grande. Ainda temos que escolher veículos certos para levar pacientes com dificuldades de locomoção. Estamos com três veículos no conserto. Eles devem ficar prontos hoje, mas mesmo assim, são muitas viagens para fora da cidade. O que houve com esse paciente foi um desencontro, mas que vou fazer o possível para não deixar mais que isso aconteça”, lamentou Odair.


FONTE: Luiz Guilherme Brandani

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