Em cada lugarzinho onde se mora e se
vive sempre existem figuras interessantes na comunidade local. Algumas dessas
pessoas são carismáticas, polêmicas, populares e têm até as esquisitas,
logicamente cada uma vivendo a sua vida e o seu mundo, mas nunca deixando de
ser destaque onde vive.
Aqui vou tratar de
uma pessoa estritamente popular e carismática. No início da década de 70, como
guarda mirim tive a satisfação de trabalhar com ele no Banco Mercantil e
Industrial do Paraná “Bamerindus”, onde hoje é a loja Móveis Romera. À
época, ele vigilante, todo uniformizado, pois seu trabalho assim o exigia,
sempre imponente, garboso, falante por natureza, antenado com os acontecimentos
de uma cidade provinciana como a nossa.
Uma de suas paixões
era o futebol, torcedor fanático pela Sociedade Esportiva Palmeiras, ostentava
com orgulho a camisa do seu time.
Nunca me esqueço do
tempo em que ele bebia, gostava de bebida destilada, uma boa cachaça, de
preferência gelada. Quando o Bamerindus adquiriu o Bancial, logo de manhã, ele
colocava um copinho de aguardente na geladeira, para que, quando chegasse o seu
horário de saída para almoço, daria um trago. Mas, algumas vezes,
sorrateiramente, sem ele e ninguém perceber misturava água na sua bebida
predileta, tirando o seu sabor. Do mesmo jeito que ele colocava o líquido na
boca, devolvia na mesma proporção. A minha alegria era tamanha em vê-lo
esbravejar aos berros, usava palavrões e queria saber quem era o infeliz que
fizera aquilo. Evidente, que isso, não durou muito tempo, logo ele descobriu
que era a minha pessoa e falou um bando de coisas e aí parei. Essa
passagem hilariante me marcou bastante em nossa convivência.
O banco tinha uma
imensidão de papéis, isso ia acumulando no dia a dia e como tudo era
confidencial, não podia jogar no lixo e menos ainda doar, na época nem se
falava do ecologicamente correto. Todo final de semana, após o expediente
bancário, pegávamos um carro do banco e íamos queimar as papeladas no famoso
“campo do japonês”, próximo do morro da Telepar, hoje bairro Jardim Delamura.
Na volta parávamos no Bar do Alberquino, ele tomava um trago e eu comia um
pudim.
Era técnico do time
de futebol da agência bancária, atuava como juiz de futebol em toda região,
inclusive foi amigo de apito do Ordoval Spiacci.
Morou anos na Rua
Marechal Deodoro com sua esposa e companheira Hilda Rossito, costureira de mãos
habilidosas, o casal tem um filho, o Junior. Infelizmente, ela nos deixou há
alguns anos.
Com o passar do
tempo, deixou o vício, e passou a cuidar mais da saúde, exercitava-se, gostava
de todos os dias fazer a sua caminhada tradicional, saía de sua casa próximo da
SEAB, antiga SAIC e o destino era o Aeroporto, indo e vindo.
Em 19.10.2011, fiz um
artigo sobre a sua ausência no Senadinho, a nossa Boca Maldita, da Rua Paraná,
sem ele, as reuniões da manhãzinha com os amigos na principal rua da cidade,
não é a mesma. Perdeu-se o encanto; os acontecimentos, as novidades, os
falecimentos, as piadas, principalmente o futebol que tanto gostava, já não tem
tanta graça.
Estou me referindo ao
conhecidíssimo “Frangão”, seu apelido que carregou a vida inteira, seu nome de
batismo Walter Dolens Rosa, pessoa estimada, companheiro, amigo e que, de
repente, se afastou de tudo e pouco saía de casa.
Infelizmente no
sábado de madrugada, 24 de maio, faleceu aos 74 anos, em sua residência e foi
sepultado à tarde do mesmo dia.
A triste notícia só
chegou-me sábado à noite e quero aqui prestar essa singela, porém, sincera
homenagem àquele que sempre conheci com um largo sorriso no rosto, nunca
reclamava da vida, a não ser quando o seu, o meu, o nosso “Alviverde” perdia.
Frangão descanse em
paz, meu amigo!
* Vicentinho é
licenciado em historia e bel. em direito
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