Um estudante de 17 anos, testemunha ocular do acidente entre uma viatura
da Polícia Militar e uma motocicleta que terminou com um rapaz de 19
anos com a perna amputada revelou ontem que está sendo ameaçado por
policiais a não revelar o que viu e muito menos depor sobre o caso. O
jovem é a principal testemunha do estoquista Fábio Júnior Brandão dos
Santos, vítima do acidente ocorrido no dia 30 de janeiro, na Vila São
Pedro, em Jacarezinho.
Santos teve a sua perna amputada depois de se envolver em um acidente
com uma viatura da PM que o perseguia. De acordo com a Polícia Militar,
ele teria sido confundido com um traficante. O rapaz conta que voltava
do trabalho para casa em uma moto que estava registrada em nome de um
parente, quando foi surpreendido pela viatura. Na perseguição, segundo a
sua versão, a viatura o atropelou quando ele já tinha descido da moto e
aguardava a abordagem em pé na calçada. A PM informou que o jovem
trafegava em alta velocidade e não atendeu as ordens para parar e que o
acidente aconteceu depois que o motociclista caiu da moto. Assustado e temendo por novas ameaças ele revelou que está sendo coagido
desde o acidente, quando tentou ajudar Fábio Santos ainda caído sobre o
asfalto. “Estava segurando a cabeça do rapaz e questionei os dois
(policiais) pelo que tinham feito. Eles me mandaram sair do local e
disseram que eu estava ‘falando demais’”, conta. “Dois dias depois,
outros dois policiais me abordaram na esquina de casa e disseram que se
eu depusesse a favor do Fábio (dos Santos) ‘iria arrumar para você’”
(sic), completa. O adolescente não conseguiu identificar os dois
policiais militares que o abordaram, mas ele confirmou que se tratava de
uma equipe da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam).
Mas a ameaça mais grave aconteceu na quinta-feira, 6. Segundo ele, dois
policiais, também da Rotam, invadiram o quintal da casa onde mora com
sua família, mandaram o estudante deitar no chão, pisaram em seu pescoço
e colocaram uma arma calibre 12 no seu rosto. “Eles disseram que eu
tinha a língua muito solta. Fizeram isso porque sabem que eu vi como o
acidente aconteceu”. A invasão à casa teria acontecido sem mandado
judicial. Os dois policiais também teriam discutido com o avô da
testemunha, um homem de 72, que questionou a ação truculenta dos
policiais. Um terceiro policial também esteve no local, mas segundo o
adolescente ele não teria entrado no local, nem feito ameaças. A mãe do adolescente, que terá seu nome preservado, confirmou as
denúncias. Ela não estava em casa no momento da invasão, mas disse que o
filho está nervoso e temendo pela própria vida desde o acidente. Ela
quer proteção para o seu filho. “Eles invadiram a casa. Tinha mais duas
crianças pequenas e meu pai, um homem de 70 anos. Não respeitaram
ninguém”, conta.
Segundo a mãe do adolescente, eles invadiram a sua casa sob a alegação
que havia drogas no quintal, mas em nenhum momento foi encontrado na de
ilícito. Para ela, o argumento da presença de drogas seria uma forma de
justificar a invasão e as ameaças.
Comando diz que vai investigar se policiais ameaçaram testemunhas
O comandante em exercício do 2º Batalhão de Polícia Militar, com sede em
Jacarezinho, major Luiz Francisco Serra disse também ontem, 11, que vai
determinar a abertura de uma “diligência preliminar” para investigar as
acusações contra os policiais acusados de terem ameaçado a testemunha
do acidente que causou a amputação da perna esquerda do estoquista Fábio
Júnior dos Santos. Segundo ele, o procedimento dará mais agilidade à
apuração das denúncias. O prazo para a conclusão da diligência é de
cinco dias e, caso confirmadas as ameaças, os policiais poderão ser
punidos com advertências ou até exclusão dos quadros da PM. O comandante
também não excluiu a possibilidade de abrir um novo inquérito militar
para investigar a conduta dos soldados Flávio Henrique de Araújo e Mauro
Henrique Teodoro Tenório.
O comandante, juntamente com o tenente Renan Douglas Pereira, que
preside o inquérito militar aberto para investir o acidente, pretende
ouvir a testemunha nas próximas horas. Eles querem saber se, além das
ameaças, os policiais cometeram abuso de autoridade e invasão de
propriedade. Os dois não descartaram a possibilidade dos dois policiais
serem afastados preventivamente enquanto são investigados.
A reportagem também tentou ouvir os dois policiais, mas como agora estão envolvidos em uma investigação, não podem falar.
Fonte:Marco Martins e Luiz Guilherme Bannwart
Foto:Antonio de Picolli
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