O semeador de flores

* Vicente Estanislau Ribeiro
  
Elzéard Bouffier é um pastor de ovelhas e o mais incrível é saber que se trata de uma historia real de um homem obstinado em uma missão de vida “plantar árvores”, baseado em um conto do romancista francês Jean Giono do ano de 1953.
O personagem, pastor de ovelhas, silencioso e persistente, que dedicou sua vida ao plantio de milhões de árvores, durante mais de 30 anos, em uma extensa área dos Alpes franceses, na região de Provença. O trabalho taciturno de Bouffier não só deu origem a matas e florestas onde havia deserto, como modificou toda a paisagem humana da região, trazendo paz e alegria onde antes havia dor, rancor e sofrimento.
A historia do pastor de ovelhas é narrada por um jovem viajante e atravessa as duas grandes guerras que devastaram a Europa, sem conseguir perturbar, porém, o trabalho diário do protagonista semeador.
Escrito há exatamente seis décadas, o conto guarda incrível atualidade, quando a crise ambiental assumiu proporções globais. E, um de seus elementos mais atuais, consiste justamente em mostrar os efeitos multiplicadores em uma comunidade humana de um gesto tão simples como o de plantar uma árvore. A mudez de Bouffier é no trabalho e vive assim. Faz o que se tem que fazer, sem esperar alguma recompensa, sem alarde.
O seu público é restrito no testemunho do viajante narrador que, mesmo assim, troca poucas palavras com o plantador quando o vê.
Pois é, aqui em Jacarezinho tem um “Bouffier”, respeitadas as devidas proporções, evidentemente, ao invés de nominá-lo o homem que plantava árvores, pode se dizer “o homem que planta flores”. Seu nome, “Messias”, mais conhecido como José.
Ele não é um pastor de ovelhas e sim, um funcionário, porteiro do condomínio residencial Luiza Andrade, localizado na Avenida Getúlio Vargas, defronte ao Museu Episcopal.
Quem desce ou sobe a avenida a pé ou de carro, logo nota a diferença da paisagem num trecho do canteiro central, onde se veem roseiras, plantas e ornamentos naturais.
Em seu dia de trabalho sempre há um tempinho para regar, plantar, podar e zelar pelo pequeno jardim central.
Como bem disse o genial e talentoso Henrique de Sousa Filho (Henfil), “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores, se não houver flores, valeu a intenção das folhas, se não houver folhas, valeu a intenção da semente”.
Acredite se quiser, já teve alguém reclamando que as flores atrapalham a visão dos usuários de veículos. Mas, é assim mesmo, tem um adágio popular que diz: “Tem gente que entra na floresta e só vê lenha para cortar e queimar, em compensação, há outros que já notam na mesma floresta, a cascata, o verde, o perfume das flores, as borboletas, a sua biodiversidade”.  Depende muito do ponto de vista de quem enxerga. Uns para construir outros para destruir.
Que naquele pedacinho o visual é mais alegre, bonito e encantador não restam dúvidas.
Nesse mundo moderno e apressado, onde carros, motos e ônibus tomam conta das ruas e cidades, cheirando fumaça, barulho e tantas coisas mais, por exemplo; fazem-nos refletir, parar e pensar um pouco e concluir que, ainda mesmo com todos os atropelos e adversidades, sempre haverá mãos abençoadas de um solitário semeador a jogar sementes da vida, plantando árvores ou flores nessa terra de tempos tão conturbados, violenta e sem cor.

* Vicentinho é licenciado em historia e bel. em direito.



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