Na
pequena Cambará, no norte do Paraná, um grupo de torcedores encarna uma
peculiaridade: eles são os proprietários do estádio da cidade, com capacidade
para 20 mil pessoas, mas já não contam com um time para torcer. O esforço de
anos para construir um campo que abrigasse o Matsubara, equipe que já foi uma
das forças do interior do estado, resultou em uma desilusão para os apoiadores,
que ficaram órfãos quando o clube abandonou a cidade - um dos últimos passos
antes de deixar de existir.
Criado
em 1974 por Sueo Matsubara, um empresário do ramo agrícola, o clube encerrou
suas atividades em 2009 na terceira divisão do campeonato Paranaense. O time
foi celeiro de atletas de expressão, entre eles o atacante Nilmar (ex-Inter e
seleção brasileira), contou com o jogador Neto (ex-Corinthians) e teve o ator
Nuno Leal Maia como técnico. Porém, apesar da tradição que criou no interior
paranaense, acabou trocando de cidade.
Foi
uma frustração especialmente para a Torcida Organizada do Matsubara, a TOM,
criadora do movimento de construção do estádio. Apesar do desgosto, o grupo
tenta permanecer unido, marcado pela herança dos tempos em que a cidade se
mobilizou para dar de presente ao Matsubara um local para mandar seus jogos no
Campeonato Paranaense. A história começou nos anos 80, quando os torcedores
organizaram rifas, arrecadaram dinheiro e fizeram um mutirão com trabalhadores
voluntários para colocar em pé o Estádio Regional, que se transformou na casa
do time.
Foram
mais de dez anos jogando ali sem problemas, até o início da década de 90,
quando o time se destacou no quadrangular final do Campeonato Paranaense de
1993. O que parecia motivo de comemoração teve um gosto amargo, pois o
regulamento previa que apenas locais com capacidade mínima de 20 mil pessoas
poderiam receber jogos. O Matsubara teve que mandar suas partidas em Maringá,
no estádio Willie Davids.
Apaixonados
pelo time, os torcedores voltaram a mobilizar toda a cidade para reunir mais
recursos e dar ao Matsubara um estádio ampliado, que pudesse receber até mesmo
a final do Paranaense, como sempre sonharam. Foram dois anos de muito esforço
até o dia da entrega do estádio, agora maior.
Pouco
antes do início dos preparativos para o Campeonato Paranaense de 1995 e com a
conclusão das obras, a torcida do Matsubara foi surpreendida pela notícia de
que o time estava sendo transferido para Londrina. Atrás de mais recursos, os
dirigentes do clube decidiram trocar sua casa, seu estádio e deixar para trás
toda a TOM.
-
Assim que fomos entregar as chaves do estádio, com uma lotação boa, que poderia
render muito ao Matsubara, o presidente comunicou que estava deixando Cambará
para conseguir mais público e renda em Londrina. Justamente
no dia em que o povo tinha se sacrificado e terminado as obras - lembra Ovanir
dos Anjos, atual vice-presidente do TOM.
A
aventura em Londrina, os craques e a volta melancólica
Em
Londrina, a primeira temporada do Matsubara empolgou o clube. A diretoria investiu
alto contratando o jogador Neto (ídolo do Corinthians e campeão Brasileiro em
1990), além de uma equipe forte que ficou na terceira colocação (o Paraná foi o
campeão, e o Coritiba, o vice), que lhe rendeu o título de campeão do interior.
Em
1996, já sem Neto, a nova tentativa de atrair a atenção foi a contratação do
ator Nuno Leal Maia como técnico, mas o time naufragou na 15ª posição. O ano
seguinte foi o último da aventura do Matsubara em Londrina. O clube não
conseguiu atrair torcedores, os investimentos cessaram e a equipe voltou para
sua antiga casa. Em Cambará, porém, o Matsubara encontrou os torcedores ainda
irritados com o abandono.
-
Quando ele (Sueo Matsubara) voltou, a cidade estava revoltada. Ele sempre
reclamou que aqui não dava mais renda, mas ele queria o quê? Nos abandonou e
achou que todos estariam de braços abertos? Ele acabou com a história do clube.
Hoje em dia, os meninos de 18 anos nem sabem mais o que é o Matsubara -
desabafou Ovanir dos Anjos.
Sem
apoio em Cambará, o clube foi definhando e caindo até jogar em 2009 a terceira divisão do
Paranaense mandando seus jogos na cidade de Santo Antônio da Platina. O clube
encerrou suas atividades no mesmo ano, depois de não conseguir voltar para a
segunda divisão.
Torcedores
mantêm o estádio e a memória
Atualmente,
o estádio construído com a força da cidade de Cambará está sem uso, mas
continua administrado e cuidado pela TOM. O último grande evento ocorrido foi
um jogo envolvendo o time master do Corinthians, que vistou a cidade para uma
partida beneficente e levou mais de 5 mil pessoas. De resto, o Regional é usado
para eventos esportivos e escolares do município.
Os
dez integrantes que restaram da TOM lutam para manter a história do grupo
intacta. Entre as atividades, existem encontros no estádio e reuniões para
saber o futuro do grupo. A luta atual é para trocar o nome do estádio para
Regional Vicente de Camargo - organizador da arrecadação e das obras da
construção na década de 80.
Apesar
de não ser utilizado há mais de um ano, Dos Anjos rebateu a ideia de que o
estádio esteja abandonado. Sua preocupação atual é preservar o trabalho árduo
dos moradores de Cambará na década de 80. Ele relembra o sacrifício que foi
erguer um estádio do nada.
-
O Vicente criou uma comissão de construção. Compramos o terreno, um lugar que
não tinha nada, era só mato. Começamos do zero e em seis meses entregamos o
estádio para o Matsubara jogar - disse.
FONTE: Portal G1
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