O mapa do crime e a solidariedade zero



Rogério Antônio Lopes

Vários estudos e pesquisas realizados por institutos renomados e pessoas não menos qualificadas, tentam demonstrar que o crescimento da criminalidade no Brasil nas últimas décadas, não tem um liame subjetivo direto com a pobreza.
Num segundo momento mitigam essa afirmação arguindo que a melhora dos índices sociais não refletem “imediatamente” no combate à criminalidade, deixando claro portanto que ambas as questões são faces da mesma moeda.
Os estudos e pesquisas realizados acerca da Segurança Pública são bem-vindos e importantes para o enfrentamento do tema, porém, a teorização da questão não pode interferir ou inviabilizar a tomada de atitudes simples, básicas e altamente eficazes que contribuem no contexto para diminuir índices, e muito mais que isso: salvar vidas evitando infortúnio e sofrimento.
O sucesso da espécie humana sobre todas as demais se deve a vários fatores, um dos mais importantes foi a capacidade que teve de se organizar em grupo, unir suas forças elegendo a solidariedade (característica daquele que tem interesse e responsabilidade mútua) como principal “política”.
Foi só a partir desse “modelo” social que o homem despontou para a liderança sobre todas as demais espécies havidas no planeta, situação que hoje só encontra rivalidade na própria soberba humana que além de desbancar a solidariedade, a lançou no completo ostracismo.
Falando de Segurança Pública Específica, toda e qualquer cidade (mesmo as metrópoles) são formadas por pequenos núcleos: os vizinhos mais próximos, nessa perspectiva comunitária é possível criar uma “teia social” capaz de filtrar qualquer acontecimento que turbe a pacífica convivência.
Esse “modelo de gestão” será altamente eficaz se for protagonizado por órgãos estatais e lideranças comunitárias, em nosso universo somente duas “entidades” tudo vêem e tudo sabem: Deus e a comunidade, utilizada com critério e inteligência, essa ferramenta é mais poderosa que qualquer arma de fogo, quadrilha, bando ou facínora de plantão.
Tal realidade é não só possível mas absolutamente viável e mesmo simples de ser implementada, todavia, requer muito trabalho e um alto nível de comprometimento social.
Para ficar apenas em um exemplo, reporto-me a cidade de Bandeirantes, norte do Paraná, onde um projeto denominado Bom Vizinho, capitaneado pelo Rotary Club, e implantado em 2010, contribuiu de maneira decisiva para que em 2012, o município que conta com cerca de quarenta mil habitantes, contabilizasse nenhum homicídio.
O crime é um fenômeno social e “faz parte” do ambiente humano, entretanto pode ser refreado em níveis absolutamente “toleráveis” proporcionando à comunidade um convívio tranquilo e altamente seguro.
As ferramentas existem e estão à disposição: ao invés de reclamação - atitude, no lugar da crítica deletéria - a participação e finalmente - substituir a indiferença pelo sincero comprometimento social, caso contrário se descobrirá que o poço não tem fundo (e não tem mesmo) é só olhar as estatísticas dos últimos trinta anos.

Rogério Antônio Lopes é delegado da Polícia Civil

Postagem anterior
Proxima
Postagens Relacionadas

0 Comments:

O que você achou desta matéria???