Joaquim
Távora - Sair de casa sem ser perseguida pelo medo e retomar a rotina de
atividade física, trabalho e faculdade ainda são desafios para Lidiane Soares,
de 27 anos, moradora de Joaquim Távora, cidade localizada no Norte Pioneiro e
com 11 mil habitantes. A jovem estudante de Biologia teve toda a vida exposta
diante do sequestro arquitetado pelo ex-companheiro Joelson Gomes Ferreira, de
28 anos, no dia 10 de janeiro. Ela foi mantida refém durante 31 horas e
confessou que achava que seria morta.
Lidiane
abriu as portas de casa e conversou com exclusividade com a FOLHA sobre o
episódio que abalou toda a região e foi noticiado nacionalmente. Ao receber a
equipe, se mostra cordial e muito tranquila, mas em vários momentos da
entrevista Lidiane fez pausas e respondeu com voz trêmula.
"Eu
não tenho ódio dele, mas também não consigo explicar o sentimento. Ainda tenho
flashes da sensação de morte que tive durante o sequestro. Meu humor oscila
bastante e tenho dormido muito mal. O Nicolas continua muito assustado. Está
sendo difícil para todos nós retomar a rotina", desabafou, ao citar o
filho do casal, de apenas 4 anos.
Depois
de relembrar os momentos de terror, Lidiane comentou que ele tinha um
comportamento diferente apenas com ela. Com os amigos e conhecidos, se mostrava
muito carismático. Ferreira tem duas irmãs e um irmão, e perdeu o pai aos 21
anos e a mãe, aos 11. Ambos faleceram por problemas de saúde.
Até
o julgamento, Ferreira permanece detido na Delegacia de Joaquim Távora.
Indiciado pelos crimes de cárcere privado qualificado e porte de arma de fogo
de uso restrito, poderá pegar até 11 anos de prisão. "Sinto um alívio, mas
ao mesmo tempo, medo, porque uma hora ele vai sair da cadeia. Não posso voltar
atrás, mas gostaria que agora em diante tudo fosse diferente. No meu caso, o
desfecho foi feliz, mas tem tantos outros em que as mulheres perdem a vida.
Depois de tudo isso, passei a confiar mais em Deus", observou.
Comovida
com tudo que passou desde o início de namoro, Lidiane fez um apelo às mulheres
que passam pela mesma situação. "É importante que se faça a denúncia,
mesmo sabendo que a Justiça não dá o amparo e a proteção que precisamos. Muitas
mulheres que são assassinadas pelo companheiro já tinham feito denúncias e
registrado boletins de ocorrência. Infelizmente, eu não sou a primeira e nem
serei a última. A lei de proteção à mulher tem que ser cumprida",
concluiu.
No
final da entrevista, dona Lídia surge com um suco de maracujá para acalmar os
ânimos e Nicolas aparece para brincar. A equipe se despede e Lidiane nos
acompanha. Ela acena do portão, acompanhada pelo pai e pela mãe. E mesmo de longe
dá para perceber que todos carregam no olhar a esperança de dias melhores.
FONTE: Jornal Folha de Londrina –
Caderno Cidades
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