Os últimos acontecimentos envolvendo a Segurança Pública no Brasil, nos leva a questionar e ponderar acerca de algumas nuances do tema.
Na seara genérica vamos encontrar eventos pontuais que contribuíram deleteriamente, como por exemplo (1) a urbanização “desplanejada” (embora bem intencionada) promovida por Rodrigues Alves a partir de 1902 no Rio de Janeiro, potencializando as favelas e criando o ambiente propício para a proliferação do vício e da criminalidade descontrolada, (2) o êxodo rural na década de 1970 que levou para a cidade milhares de pessoas que após venderem seu pedaço de terra, compraram um aparelho de TV e foram morar nas periferias, sem qualificação e infraestrutura, maximizando todos os males que essa irresponsável movimentação poderia proporcionar (e proporcionou) etc.
No segmento específico da Segurança Pública o país nunca apresentou, na verdade sequer “pensou” uma política voltada especialmente para essa área.
Não há notícia de uma agência de planejamento que interagisse com os Estados, estes por sua vez, também não avançaram na questão.
Por seu lado, a evolução da criminalidade, assim como das cidades (uma tem tudo a ver com a outra, pois é o ambiente comum onde o crime nasce, se desenvolve e se instala) dá ares de que também “não foram percebidas”.
O “ladrão de galinha” deixou o “romantismo” e partiu para os assaltos a bancos, os sequestros, o tráfico de entorpecente e por fim a qualquer tipo de crime, banalizando a vida do cidadão e matando praticamente por matar.
Na criminalidade classe “AAA” os criminosos também se refinaram, criou-se a máfia das licitações, os desvios bilionários em todas as áreas do poder público, incluso na saúde onde detecta-se crime desde o superfaturamento de ambulâncias até a falsificação de remédios, e a tudo isso qual foi a resposta do Governo, ou melhor, qual foi a evolução do Estado no sentido de ao menos contrabalançar essa realidade que mata mais que os criminosos das classes “B,C,D e F” ? A resposta foi extremamente tímida, e o pior, foi sempre uma resposta.
Na reunião da semana passada Cardozo e Alckmin anunciaram que vão trabalhar juntos e as ações serão integradas, ou seja, precisou a situação chegar a esse grau de “descontrole” para que ficassem reunidos por uma hora para definir isso?
Há muito tempo (talvez desde o ladrão de galinha) a interatividade no trabalho de Segurança Pública específica não se trata de uma decisão política (como esta) ou de uma conveniência administrativa, é uma necessidade absoluta e imperiosa.
Outro ponto crucial é o planejamento das forças de segurança, desde a capacitação continuada dos seus operadores, para que não atirem em inocentes e nem uns nos outros (isso seria um importante avanço), passando pelo atendimento de excelência ao cidadão e atingindo o setor de inteligência, para agir preventivamente e não após cada movimento do PCC.
Planejamento e gestão esse é o binômio sobre o qual a Segurança Pública eficiente e eficaz deve deitar seus esforços, caso contrário, a situação vivida em São Paulo pode ser só a ponta do iceberg.
Rogério Antônio Lopes é delegado da Polícia Civil
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