O Mec quer acabar com as Apaes

Rogério Antônio Lopes

Se algo funciona bem no Brasil, em nível de eficácia e excelência são as Apaes, a rede está presente em mais de dois mil municípios, e os serviços que realiza a mais de sessenta anos todos conhecem, dispensam apresentação.
É tão importante que pode-se dizer com tranquilidade que hoje o país não seria o mesmo sem as Apaes.
Até o ano de 1954 o fenômeno “deficiência” senão ignorado, sequer era percebido pelo Estado, é exatamente neste momento que o trabalho de famílias empenhadas em buscar alternativas e soluções para que seus filhos de alguma forma sejam incluídos socialmente, faz surgir a Federação Nacional das Apaes, desde então, criou-se um novo paradigma onde a gestão eficiente e a excelência em cada procedimento, tem contribuído não apenas na inclusão, mas para melhorar a vida de milhares de pessoas, atingindo o fim precípuo do Estado Democrático de Direito que é levar felicidade ao cidadão, coisa em que o Estado (através dos vários Governos) se mostrou mais que incompetente: ausente.
Hoje, sabe-se lá porque “cargas d’água” (talvez falta do que fazer -só pode ser isso) vem o Mec, através da sua “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva” (o nome é politicamente corretíssimo), documento produzido pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial n. 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria n. 948, de 9 de outubro de 2007, e na prática propõe o fim das Escolas Especiais, arguindo basicamente a educação inclusiva.
Fosse o Estado brasileiro um modelo de gestão e eficiência, a proposta até poderia ser avaliada, mas considerando o nível de mediocridade do serviço público no país (óbvio que existem exceções, mas são raríssimas) principalmente no que diz respeito ao atendimento ao cidadão, significa dizer que se a proposta avançar, as Escolas Especiais não só irão acabar, como as pessoas que são atendidas por elas serão lançadas ao descaso e à própria sorte, em nada diferente dos infelizes que morrem e sofrem diariamente nas desumanas filas produzidas pelo sistema de saúde, dignas das cenas mais horripilantes do inferno de Dante.
O Mec deveria vir somar com as Apaes, agregar e auxiliar, melhorar aquilo que já é bom, copiar seu modelo de gestão e levar para dentro das demais Escolas, desde a gestão na compra de merenda até a gestão de pessoas.
Nas Apaes também existem problemas, a diferença é que são encarados dentro de um caráter resolutivo de alta eficiência, diferente do Mec, cuja gestão tem deixado a desejar até na organização de eventos como o Enem, um verdadeiro constrangimento nacional para dizer o mínimo.
É preciso portanto que o Mec (seus dirigentes e responsáveis) procure algo mais positivo para fazer, como por exemplo desenvolver políticas de valorização para a classe dos Professores, ou criar um Grupo de Estudos através de Portaria Ministerial  e apresentar soluções viáveis objetivando minimizar a violência dentro da sala de aula, enfim, propostas equilibradas e lúcidas não faltam, caso contrário, ele próprio pode acabar precisando dos serviços das Apaes, fato aliás que lhe faria muito bem, talvez apreendesse alguma coisa.

Rogério Antônio Lopes é delegado de Polícia

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