Museu guarda cerâmicas históricas

Enquanto espera a informatização do Museu a permitir buscas em acervos que possam complementar a história de Jataizinho pela origem durante o Império, Paulo Alves Cavalcante realça uma fase menos distante da comunidade: o ciclo econômico das olarias e cerâmicas. Ao demolir antiga residência, o proprietário surpreendeu-se ante o interesse de Paulo em resgatar uma telha e verificou a inscrição no objeto: ''C.T.M. - Jatahy''.
Ali estava um produto da Companhia Territorial Maxwell, que instalou a primeira olaria (ou cerâmica) em Jatahy, entre 1929 e 1930. A relíquia pode ser vista no Museu Histórico, ao lado de outra produzida pela Cerâmica Bela Vista, estabelecida uma década depois da Maxwell.
Paulo Cavalcante, o Paulinho, auxiliar-administrativo do Museu e pesquisador entusiasmado, observa que, ao se confrontar documentação e depoimentos no acervo detecta-se, por vezes, contradições e dúvidas. Há, porém, história certificada. Por exemplo: em 2 de agosto de 1955, Jataizinho comemorou o centenário com a denominação ''Jataí de Alcântara'', jamais oficializada. O Museu é instituição recente, inaugurado em maio passado, pela Prefeitura.
Historicamente, o escocês Ian Fraser chegou a Jataí em 1929 e construiu a cerâmica da Companhia Territorial Maxwell, também de escoceses e ligada à Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). Cada empresa tinha participação na outra, segundo depoimento do contemporâneo Dionísio Striquer disponível no Museu.
Carta de 17 de agosto de 1938 dirigida à Prefeitura de Jatahy, em papel timbrado da CTNP e assinada por seu diretor-técnico, Wille Davids, relaciona as duas empresas. ''Junto temos o prazer de anexar dois cheques sobre o Banco Noroeste do Estado de São Paulo em Londrina, um sob N. 93980 e Rs. 1:885$600 em pagamento do imposto sobre a propriedade da Cia. Maxwell, o outro sob N. 93981 de Rs. 1:683$ em pagamento do imposto sobre a propriedade da Cia. Ferroviária São Paulo-Paraná'', informa. Em São Paulo, a Maxwell e a CTNP tinham endereço em comum.
Paulista de Pirassununga, descendente de alemães, Dionísio Striquer arrenda a cerâmica Maxwell em 1933 e permanece sozinho no ramo, ''fazendo telhas batidas a mão'', até 1937 ou 38, quando o espanhol Antônio Vialta começa a produzir tijolos em pequena escala. Falta saber quando Dionísio implantou a Cerâmica Bela Vista propriamente, na década de 40. Com a redemocratização pós-ditadura Vargas, Jataí elegeu Dionísio prefeito, em 1947.
As informações sobre o ''ciclo cerâmico'' em Jataizinho são do advogado Albino Striquer, filho de Dionísio, em entrevista à FOLHA em 2008. Olaria e cerâmica correspondem à feitura de objetos de argila, um tanto artesanal no primeiro caso (olaria) segundo Albino, abordando a evolução em Jataizinho nas décadas de 60 e 70. As ''olarias'' até então produzindo tijolos maciços compraram máquinas e se transformaram em ''cerâmicas'', de tijolos furados.
Por volta de 1980, Dionísio deixou a cerâmica por conta dos filhos, seus sócios, dos quais Rubens concluiu um curso avançado de cerâmica. A Bela Vista diversificara a produção; além de telhas e tijolos, manilhas largamente utilizadas nas redes de esgoto, precedendo os tubos de PVC que, a seguir, dominaram o mercado.
Expansão vertiginosa esbarrou na recessão
O desenvolvimento de Londrina determinou a evolução das olarias e cerâmicas de Jataizinho, com sucessivos saltos nas décadas de 40, 50 e 60, seguindo-se talvez a melhor fase, pelo incremento à construção civil do Banco Nacional de Habitação (BNH), nos anos 70. Jataizinho, ''capital nacional das cerâmicas'', consta na história do município, porque as suas 30 olarias e cerâmica então ganharam mercados em outros Estados. Restariam sete ao término do ciclo.
Seguiu-se a terrível conjuntura dos anos 80, ''a década perdida'', extinto o BNH em 1986. A produção das cerâmicas de Jataizinho tinha evoluído de quatro milhões de peças/mês para 11 milhões e chegou à superoferta de 12 milhões. Com o excedente, o preço do milheiro no mercado caiu para a metade do custo de produção em 1983.
A inflação de 100% ao ano entre 1980 e 82 chegou a 200% em 83 e atingiria 1.700% no final da década. Sucederam-se os planos econômicos, cessaram os investimentos, quem tinha dinheiro punha na poupança. Veio a recessão. A Cerâmica Bela Vista, a maior, com 72 empregados dos quais uma parcela dispunha de casas cedidas pela empresa, parou no decorrer da década de 90, tendo sido inevitáveis as ações judiciais motivadas por dívidas. A família deu em garantia o grande patrimônio. Dionísio, o patriarca, havia morrido em 1983.

FONTE: Jornal Folha de Londrina – Caderno Norte Pioneiro
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