Um amigo meu gosta de vender rifas. Bem entendido, do tipo beneficente.
É um voluntário das instituições filantrópicas. Um altruísta a mais entre tantos que já existem em nossa cidade.
Como é sabido, para essas entidades não há recursos suficientes para sua devida manutenção. Da parte governamental nem sem fale, a ajuda é quase zero. Quem arca praticamente com o peso das despesas é o pêndulo de sempre, a protetória comunidade, através de doações, rifas, trabalho voluntário de pessoas ocultas que agem silenciosamente e não aparecem.
Esse segmento de vendas não é para qualquer um. O vendedor tem que ser bom de papo, sociável, ter uma legião de amigos e conhecidos e massificar as vendas de bilhetes, cartões, convites, ingressos ou cartelas, seja lá o nome que for, pelos quatro cantos da cidade.
O tal amigo, que já fez tantas vendas bem sucedidas, contou-me uma de suas abordagens feitas a um suposto comprador.
Diz ele que chegou ao estabelecimento comercial do cidadão, esperou educadamente a sua vez e com um sorriso contido, estendeu a mão direita cumprimentando-o e com a outra, já estendendo abertamente com dois cartões numerados que eram para um “jantar dançante”, evidente que para casais.
Nesse momento, nem o preço e o cardápio foram questionados pelo abordado.
A pergunta de supetão do provável adquirente: - No jantar dançante eu tenho que dançar o tempo todo com a minha mulher?
Foi quando o desprendido vendedor, não contendo a maneira espontânea e hilariante, começou a rir da cena pitoresca.
Sem jeito, ele respondeu ao comerciante: - O ideal é o esposo e a esposa juntinhos na pista dançando, mas, acaso você queira levar a sogra, cunhada ou alguém mais de seu convívio, tenho mais alguns convites à disposição.
Mais do que depressa, o comprador retrucou em tom viperino, já está difícil o jantar dançante com a patroa e agora você sugere a compra de mais cartões para levar sogra e cia. Limitada? Meu caro amigo! Vamos deixar para a próxima oportunidade, quando o jantar só for jantar ou almoço só almoço, sem esse negócio de dança com refeição ou vice versa.
Já quase vencido o filantropo vendedor; de repente aparece no local a esposa do comprador, sua filha com o namorado e, num gesto relâmpago, o comerciante antecipa a conversa e assim diz: - Benzinho! Estou acabando de comprar quatro convites para o jantar dançante de sábado agora, não é mesmo?
Imediatamente, o sortudo vendedor deu um sorriso elástico de alegria e confirmou com um sim, balançando a cabeça.
Moral da estoria: Dançando ou não com a esposa a noite toda, o importante foi a colaboração do comprador e da família em ajudar a minimizar a árdua luta nas pistas do dia-a-dia que constantemente as entidades beneficentes dançam miudinho para permanecerem em pé com suas ações e obras.
* Vicentinho é licenciado em historia e bel. em direito.
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