Doenças Psicossomáticas: sofrimento em carne e osso

Helder de Oliveira Barbosa

Senhoras e senhores, quem de vocês nunca ouviu um desabafo semelhante a este: “(...) mas eu já fiz de todos os tipos de exames , tomei vários remédios e ainda estou com problemas de saúde.” Já ouviram, né!?
Vocês sabiam que muitas das doenças de pele (dermatites) como a psoríase e o vitiligo, além de se agravarem por fatores emocionais, podem ter origens psicológicas? Sabiam que gastrite, úlcera e demais problemas gastrointestinais sofrem alterações disfuncionais devido a fatores emocionais, e também podem ter origens psicológicas? O mesmo vale para os problemas respiratórios, cardiovasculares, alergias, artrite, artrose, tendinite, reumatismo, problemas sexuais (disfunção erétil e frigidez, ou, excesso de libido), entre muitos outros exemplos, até imobilização de membros. Sim, imobilização de membros, semelhantes àqueles torpores dos sonhos em que não conseguimos correr. Em algumas pessoas os sofrimentos emocionais e/ou disfunções psíquicas só encontram espaço para se manifestarem através do corpo. E não é raro que se manifestem de forma radical para que seja percebido: através do adoecimento físico; pelo menos assim é visto, algumas vezes palpável e tratado; o sintoma, não a origem real da causa.
Não é raro que algumas pessoas em sofrimento por um ou mais tipo de doenças realizem uma bateria de exames e não constatam nenhuma alteração ou disfunção orgânica. O que não quer dizer que estas pessoas estejam encenando as dores, ou dando “pitis e chiliques”, como ouvimos no ditado popular. Por mais que não se encontre a origem fisiológica destas dores elas realmente são sentidas, algumas vezes até com mais intensidade.
Pode nos causar certa estranheza o fato de pensarmos que fatores psicológicos possam repercutir diretamente no sistema orgânico. Mas não se preocupem, isso é normal, pois são investigações novas da medicina e psicologia; iniciaram-se há pouco mais de cem anos. Bom, para tentar diminuir a estranheza podemos ilustrar esse funcionamento fazendo uma metáfora ao funcionamento de um computador. Imaginem que nosso sistema psíquico seja análogo ao software (elementos não físicos: programas, sistema operacional, configurações – crenças, valores, medos, desejos, personalidade) e nosso organismo análogo ao hardware (elementos físicos: placa-mãe, monitor, teclado, disco rígido – neurônios, córtex, hipotálamo, labirintos, olhos, coração). É que em nossa cultura costumamos dissociar o corpo da mente, porém, é uma unidade trabalhando em sincronia. Logo, se o sistema psíquico está em sofrimento e não recebe a assistência necessária, há grandes chances de que os sintomas se manifestem através do organismo (corpo físico), e vice-versa.
Doenças em que as origens não são encontradas, mas detectados os sintomas, possivelmente são Doenças Psicossomáticas. Isto significa: “psico” de psicológico; e “somático” de “soma”, que do grego significa corpo, que são doenças sem causa fisiológica que apresentam sintomas no corpo físico. Exemplo: o fenômeno da tensão, irritabilidade, ciúmes, inveja e nervosismo não são constatados nas Radiografias, Eletroencefalogramas e Ressonâncias Nucleares Magnéticas, mas as alterações fisiológicas sim. Além dos sintomas que podem ser percebidos no estômago produzindo sucos gástricos ácidos. E com a elevada produção deste suco pode-se desenvolver feridas no tecido do estômago, consequentemente a gastrite nervosa e úlcera péptica. Ou então quando nos encontramos numa profunda tristeza e na sequência somos invadidos pelos sintomas da gripe. Além de muitos outros exemplos que podem ser percebidos em nossa dia a dia.
Nos exemplos acima pudemos perceber que das origens psicológicas constatamos os sintomas fisiológicos. É comum que pessoas com características de Doenças Psicossomáticas sejam aquelas que se expressam através do corpo, são pessoas doloridas, com “dores agudas, grossas, que apertam, dão nó, rasgam, etc.”, algumas também têm a mania de consumir medicamentos para evitar uma possível dor ou doença que imaginam que possa surgir a qualquer momento (hipocondria). Vivem em função da doença, não da prevenção à saúde.
Lembremos que é normal que as doenças e sintomas às vezes se instalem em nosso corpo, e não que nosso corpo e nossa vida se instalem nas doenças e sintomas e passamos a viver em função delas. Portanto, cuidando do sistema psíquico estaremos prevenindo muitos desconfortos e doenças que se manifestam no sistema orgânico, em nosso convívio social, no ambiente familiar, em nosso desenvolvimento pessoal, no progresso e em qualquer outro contexto em que nossa personalidade se fizer presente.

“Existem momentos na vida da gente em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis, e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las, elas parecem não servir. Então a gente não diz, apenas sente.” Sigmund Freud [1856 – 1939] (Austríaco Médico Neurologista fundador da Psicanálise).


Helder de Oliveira Barbosa, Especializando em Psicologia Clínica Psicanalítica

Consultório de Psicologia Cogitari
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