A piada do título

Rogério Antônio Lopes 

Nestes tempos de eleição onde a democracia se espraia por todos os rincões, levando algo mais além do que promessas, e muito mais importante (sabemos que grande parte delas não serão cumpridas, ou por falta de condições reais ou por demagogia mesmo): a esperança de que alguma coisa possa melhorar, certos “detalhes” do complexo eleitoral dão aos humoristas um importante mote para discutir a questão, que não obstante em forma de pilhéria, contribui significativamente para o debate cívico/eleitoral além de realçar a importância do regime democrático.
O titulo de eleitor é sem dúvida um dos mais importantes documentos do brasileiro, sem ele não se faz praticamente nada, a não ser votar.
Sem ele o sujeito não tira passaporte, não faz concurso público, não pode tirar o CPF, se for servidor público pode não receber o salário, pode até não levar o premio da loteria, ou seja, o documento é importante mesmo, porém, sem ele o cidadão pode votar normalmente e sem nenhum problema, basta apresentar qualquer outro documento.
Evidente que essa “adequação” administrativa foi feita em nome da desburocratização e do princípio da eficiência, Hélio Beltrão, que foi o primeiro Ministro da Desburocratização (o Brasil já teve esse ministério, cujo objetivo era diminuir o impacto da estrutura burocrática do Estado na economia e na vida dos brasileiros, não durou muito, mas foi uma lúcida tentativa de descomplicar aquilo que não precisa ser complicado, ou como dizia o próprio Beltrão - O brasileiro é simples e confiante. A administração pública é que herdou do passado e entronizou a centralização, a desconfiança e a complicação.) aplaudiria a iniciativa.
Na era da ficha limpa uma expressão chama a atenção, são as “propostas” (epíteto politicamente correto para promessa).
Os marqueteiros proíbem seus pupilos de pronunciarem a palavra promessa, proposta pode, mas chama a atenção a falta de discussão sobre o caráter e as atitudes dos candidatos, nos debates quando algum concorrente levanta um tema pessoal, logo se diz que deve “manter o nível” e ficar só nas propostas, isso não está correto, o indivíduo só vai honrar as tais propostas se detiver um caráter íntegro e um passado coerente, se não fosse assim os estelionatários seriam os melhores candidatos, pois suas “propostas” nos golpes e artimanhas em que lesam suas vítimas são as “melhores do mundo”, por isso é sumamente importante discutir aspectos pessoais e do passado de cada um, negar isso é  incoerência democrática e “vistas grossas”(como diria Barbosa) aos “estelionatários do voto”.
Uma outra piada nesse contexto é o voto do analfabeto funcional, e isso já era discutido por Monteiro Lobato que dizia: quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.
Nossa democracia é mesmo inusitada: o voto é obrigatório e ao mesmo tempo é um direito, o titulo é necessário para tudo menos para votar, tudo isso mais as propostas mirabolantes que jamais serão efetivadas, levou o “filósofo” Paulinho Mixaria, a solfejar em uma de sua canções “pampeiras” que agora já entendia porque estava escrito zona, ou seja, em termos de piada a política tupiniquim é uma das mais produtivas fontes para nossos humoristas, já é alguma coisa.

Rogério Antônio Lopes é delegado da Polícia Civil
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