O chefe e o monstro

Rogério Antônio Lopes

Realmente o poder é um dos piores monstros conhecidos pela humanidade, em “certas mãos” torna-se um teratóide vil e abjeto, capaz de acabar com sonhos, paz e até vidas.
Seu conceito é mais variável que os estados físicos da água, desde as “relações de poder” preconizadas por Foucault, passando pelas dimensões de Hanna Arendt, até Hobbes que vê no Estado a expressão máxima de poder, não importa, em nosso caso, poder é a condição do indivíduo que pode mandar em outro, que tem ascensão hierárquica ou “política” sobre o “infeliz”.
Poder tem uma relação direta com o conceito administrativo de chefe (ou qualquer outra nomenclatura politicamente mais agradável, cujo significado será sempre o mesmo) é nesse campo que se verifica com maior intensidade sua transformação de instrumento viabilizador da eficácia em monstro multiplicador da inoperância e da mais absoluta mediocridade administrativa.
Gestores limitados e pobres, vêem no poder e na possibilidade de sobrepujar o inferior, a condição perfeita para massagear seu ego (geralmente doente) e tornar-se “importante” dentro de “algum contexto”, para tanto, não medem “esforços” no sentido de dificultar e mesmo prejudicar a vida do inferior (máxime os mais competentes).
Providências simples e fáceis passam a ser penosas beirando as raias do impossível, uma simples férias torna-se algo quase que inatingível e no final, o magnânimo chefe, por sua incomparável bondade e benesse concede as férias do infeliz inferior, apenas 15 dias é claro, chefe que é chefe não pode ceder muito.
Algumas das piores avarezas do espírito humano afloram quando o poder vem, então os complexos de inferioridade, as mágoas, a inveja etc são potencializados nas atitudes arbitrárias e descompensadas com os inferiores, sim sempre com estes, porque com os superiores são sempre submissos e jamais explodem, ou seja, para esse pessoal a regra é dois pesos e quantas medidas forem necessárias.
O gestor descompensado que usa o poder sem critério, acaba sendo um entrave no desenvolvimento de qualquer organização, principalmente porque desmotiva a maioria dos colaboradores e agrada somente a três ou quatro que fazem parte da chamada “panelinha”, assim, a organização torna-se improdutiva e inoperante.
Esse tipo de gente se dá melhor nas estruturas estatais, porque como a coisa não é passível de falência, o ambiente é favorável à essa prática de expressão do poder, que ganha fôlego quando a “política diretiva” a estimula ou simplesmente a ignora.
Esse problema não tem solução, só irá piorar na medida em que o espírito humano for se empobrecendo no ritmo em que se anuncia.
O exercício do poder na seara administrativa é ferramenta e instrumento capaz de proporcionar ao gestor condições de executar suas tarefas com eficiência e eficácia, pontuando em cada colaborador uma “peça” fundamental no fazimento completo da atividade estatal respectiva, sabe-se que “peças” com defeito causam muitos problemas e definham a produtividade, se imagine então pessoas que não produzam de acordo com suas capacidades.
O poder mais que a capacidade (efêmera) de mandar, concretiza verdadeiro ato realizador da espécie humana, utilizá-lo com inteligência, bom senso e equilíbrio é conditio sine qua non no trilho de uma gestão competente e eficaz.
Na seara privada o seu mau uso leva à falência, no setor público à inoperância do respectivo contexto, porque se falisse Montesquieu teria de rever seu “espírito”.

Rogério Antônio Lopes é delegado da Polícia Civil
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