ARTIGO: O crime da mala (1928-2012)

No ano de 1928 um crime brutal abalou o Brasil, mais ou menos como o atual “caso do executivo da Yoki”.
Um imigrante italiano chamado Giuseppe Pistone assassinou sua esposa Maria Fea e colocou-a dentro de uma mala, não sem antes seccionar seus joelhos com uma navalha e quebrar-lhe o pescoço. Em seguida despachou a mala para a França.
Ao ser manuseada no porto de Santos, a mala abriu e o crime foi descoberto, Giusepe confessou que matou a esposa grávida de seis meses. Ficou preso alguns anos, cerca de quinze, e acabou “seguindo Maria” no ano de 1956.
Hoje Maria Fea está enterrada no cemitério da Filosofia em Santos e dizem que faz até milagre.
Matar pessoas, esquartejar o corpo e depois esconder em malas, sob o piso da cozinha, no poço e em outros lugares insólitos, faz parte de um surpreendente e asqueroso repertório de assassinos frios e geralmente próximos da vítima.
Não se trata de psicopatas, mas de indivíduos despreparados para a vida, que talvez sequer devessem ter nascido.
Casos similares e registrados já passam de duas centenas, fora aqueles que não foram descobertos em razão da falta de repercussão ou de outro motivo qualquer.
Amor e ódio caminham lado a lado, parece ser verdade, aliás são tantos casos em que o indivíduo mata o ser “amado”, que a doutrina acabou criando uma categoria específica de crime só para eles: crime passional, ou seja, o crime cometido por paixão, movido pelo “amor”, nada mais patético.
Em 1976 quando Doca Street (o playboy incorrigível), “encheu de chumbo” a Pantera de Minas Ângela Diniz, veio com a maior cara de pau e disse que foi por amor, cinco anos depois foi a vez de Lindomar Castilho pegar o revólver e matar sua esposa Eliane de Grammont, novamente por “amor”, ou seja, o amor tornou-se uma espécie de “álibi cornitideos”.
O interessante é que após uma breve análise comportamental, desde o crime da mala de 1928 até o caso da Yoki, passando pelo Doca, Lindomar e todos os demais desconhecidos que praticaram o mesmo tipo de atrocidade, o resultado era “algo absolutamente previsível”.
A conclusão não quer causar espécie, na verdade é muito simples: qualquer relacionamento a dois que encontra suporte em valores deteriorados, em sentimentos falsos, em mentiras, em traições, e acima de tudo na falta de respeito só pode dar errado (e vai dar errado) a “intensidade” desse “errado” vai depender do desequilíbrio do indivíduo na hora da “raiva”, pode ir de um breve “piti” até o frio e cruel planejamento para cortar a vítima em “pedacinhos”.
O executivo da Yoki não teve azar assim como Maria ou Ângela, quando começaram seus relacionamentos conheciam o perfil do “outro” (e o seu próprio) e sabiam que podia acabar mal, só não imaginavam o quão mal podia acabar, agora sabem.
Tarde demais ? para eles certamente, mas não para milhares de outros casais em condições semelhantes e que sem dúvida não querem se tornar “milagreiros” como Maria Fea.

Rogério Antônio Lopes é delegado da Policia Civil
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