* Rogério Antônio Lopes
Na última terça dia 29, o Senador Demóstenes Torres esteve na Comissão de Ética do Senado das dez da manhã até quase cinco da tarde, período durante o qual se defendeu das acusações de que é alvo, todas elas com base a partir de escutas telefônicas.
Durante aproximadamente sete horas Demóstenes foi humilde como nunca se imaginou, falou em Deus, família, disse estar sofrendo a maior execração pública da história do país, desmentiu e desqualificou as acusações e o mais interessante, disse que após todo esse ocorrido mudou, está mudando e vai mudar mais ainda.
A situação de Demóstenes seria mais um “reles” escândalo não fosse por um detalhe: ele sempre foi o primeiro da fila na “convocação” dos algozes, e de cima da sua “indefectível” arrogância, se postava como último bastião da moralidade dentro do Senado, não só acusando, mas literalmente “demolindo” a moral e o nome de qualquer servidor público que ousasse “usar mal” uma folha de papel ou uma caneta bic.
Demóstenes sofria da recorrente síndrome: “comigo não”, ou seja, pessoas que se acham acima do bem e do mal e se encoleram só de pensar que seus atos podem ser questionados ou que serão investigadas por outras pessoas ou instituições, Demóstenes era desses, acreditava pia e “doentiamente” que “justiçamento” era justiça e sempre foi parceiro da mesma imprensa que agora, sem provas e sem julgamento (sim porque até o momento só existem indícios) denigre e achincalha sua moral dia a dia, num processo de esgotamento que o levou à depressão, provocou a fuga dos “amigos” e trouxe a doença.
Acusou promotores e delegados de fazerem uma conspiração para “derrubá-lo” e não poupou o Procurador Geral da República Roberto Gurgel.
A certa altura Demóstenes, então com semblante sereno e o dedo não mais em riste, não colérico mas tranquilo, olhar resignado lembrando o cordeiro que está prestes a ser imolado e amparado quase que paternalmente pelo advogado “Cacá”, disse ter se aproximado de Deus e que agora com a “lanterna na popa” vê tudo diferente.
Antes, disse ele, tinha a lanterna na proa e só conseguia ver a questão de um lado: o seu.
Demóstenes agora como “réu” (e com medo de ir preso) defende todos aqueles direitos constitucionais, máxime o “princípio da presunção de inocência”, os mesmos que até pouco tempo eram por ele vilipendiados e atacados da tribuna do Senado, assacando contra qualquer um que aparecesse no seu caminho sua “ira acusatória” desmedida e desequilibrada.
Em seu depoimento Demóstenes que é jurista e egresso do Ministério Público, foi humilde e exemplo de homem que reconhece seus “erros” dando a si próprio uma nova chance.
Depois de ouvi-lo, praticamente todos os Senadores “meio” que balançaram em suas “convicções”, perceberam que amanhã podem estar provando do mesmo “veneno”, mas o exemplo não serve só para eles.
Ao se acusar alguém (principalmente quando essa acusação é feita por autoridades e formadores de opinião) é preciso comprometimento com o Estado Democrático de Direito sob a égide do qual vivemos e não apego passional ao Estado policialesco, como reclamou, com razão o próprio Demóstenes, que está apreendendo (e provando) do modo mais dolorido possível o brocardo latino que leciona (e previne) com singular sabedoria: “Pimentus in annus alheius refrescorum est ”.
Rogério Antônio Lopes é delegado da Polícia Civil
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